"Fazia tanto tempo que desistira de dedicar sua vida a um fim ideal, limitando-se às satisfações cotidianas, que chegou a crer, sem nunca o confessar formalmente a si mesmo, que aquilo não mudaria até a morte; ainda mais, como já não sentia ideias elevadas no espírito, deixara de acreditar na sua realidade, embora sem poder negá-la de todo. Adquirira assim o hábito de se refugiar em pensamentos sem importância que lhe permitiam deixar de lado o fundo das coisas." (Marcel Proust)
Não consigo viver como os outros.
Por que a vida me parece algo tão complicado? Como os outros fazem isso? Por que eu não consigo usar maquiagem, ou sair para tomar um café ou comer uma pizza? É sempre trabalho, trabalho, trabalho.
Sempre cansado demais, sempre exausto, sempre caindo de sono. É um estado depressivo impregnado no meu ser? É anemia? É uma desilusão tamanha que me fez apenas uma casca vazia, que observa o mundo ao redor sem dele fazer parte realmente?
Eu só sei que aquilo que é tão simples e fácil para todos, para mim é uma realidade tão distante quanto a terra está do céu, é como se eu fosse uma serpente que, ao rastejar pelo chão, só pode olhar para a águia a voar pelos céus que ela tanto sonha.
Mais uma noite que não consigo ficar acordado por nem uma hora a mais. Droga. Como os outros fazem isso parecer tão fácil? Eu só queria conseguir ver mais um episódio sem parecer um zumbi amanhã.
Mas não consigo.
Sofro apenas
da memória de ter amado.
O que mais me dói,
porém,
é a condenação
de um verbo sem futuro.
Amar."
Tenho sérios problemas com esse senhor. Mas eu não quero sair com as multidões, eu quero o simples, porém o simples que vive, que pulsa, que ama. Eu quero aproveitar os dias gelados para andar de braços dados, eu quero poder sentir o vento frio, mas ao seu lado. Mas parece que não ando ao lado de ninguém.
Ninguém.
O que sonho parece longe, uma miragem.
E, enquanto isso, parece qualquer coisa, menos uma vida. Uma roseira que alguém podou e que nunca mais floriu.
"Cada beijo chama outro beijo. Ah! Nos primeiros tempos do amor nascem tão naturalmente os beijos! Acorrem, apertando-se uns contra os outros; e ter-se ia tanta dificuldade em contar os beijos dados numa hora como as flores de um campo no mês de maio." (Marcel Proust)
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