terça-feira, 20 de agosto de 2024

Transbordando

Tentando lidar com a minha ansiedade crescente e, claro, com a das pessoas ao meu redor. Parece que sempre preciso lidar com as minhas tempestades e com as dos outros. Sempre. 

Tem duas harpas na orquestração da Sinfonia N° 2 do Mahler, não me recordo de tê-las notado até agora. Gostei do efeito, me recordaram uma vez a calmaria antes da batalha, sempre a pior parte.

Já há alguns dias isso vem mudando dentro de mim. Preciso então recorrer a respirar fundo. A não me estressar demais, ou os próximos dias serão insuportáveis. Mas é claro que ninguém pensa nisso dessa forma. É loucura tentar deixar todos confortáveis, principalmente aos custos do meu desconforto. Muitas vezes sofrendo sozinho e por antecipação. 

Minhas costas doem, na altura próxima ao pescoço e também dos rins, se irradiando para o restante, como um calor que vai se espalhando numa chapa de ferro. É um dos sintomas da minha ansiedade atacando. Geralmente acontece em dias assim que antecedem grandes eventos. É uma droga, na verdade, me deixar afetar assim. Queria poder controlar esse fluxo, mas, como um oceano, ele parece impossível de se conter, uma força da natureza, da minha natureza. Um ímpeto de langor que destrói tudo por onde passa. 

Uma represa que não conteve e transbordou. 

Transbordar. 

Parece que estou sempre prestes a transbordar. Será que sou um oceano que adquiriu algo de forma humana?

Em verdade não sei mais que forma tenho. Às vezes cheguei a pensar que tenho forma de amor, mas parece que o amor se tornou frágil, vazio e sem contorno. Assim como eu. Mas um oceano ele não tem exatamente uma forma, senão que ele vai e vem, e se estende, se prolonga indefinidamente. Me sinto assim agora, olhando o sol tentar sair depois de dias de nuvens pesadas. Odeio o sol. Prefiro as nuvens pesadas. Acho que o oceano também fica bonito em dias nublados. Muito embora, certo amor ainda me faça sentir o calor e a brisa salgada no meu rosto, como se beijassem o oceano. 

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