Me encontro em plena personificação do pessimismo. É um dia qualquer, não está nublado e sombrio, mas também não há sol. Não há muito movimento, e eu queria poder voltar para minha cama, ou tomar um copo bem quente de cachaça. Poderia me atirar escada abaixo, na esperança de conseguir um fisioterapeuta gostoso como o personagem do Garfield em This Love Doesn't Have Long Beans, mas conhecendo a minha sorte, eu no máximo teria que trabalhar machucado mesmo. Daqui da janela vi que o sol brilhou rapidamente, mas logo se envolveu nas nuvens de novo.
Em mais uma ciclagem, me encontro agora com a mente desperta e ativa, naquele giro típico dos dias de hipomania. Odeio ser assim. Ontem eu estava naquele estágio letárgico, melancólico e carente. Sobrou ao meu afilhado e amigo aguentar meus devaneios e filosofemas afetivos sobre o amor, o conhecimento e tudo mais... Embora esses questionamentos estejam sempre em minha mente e coração, não quero mais os externar desse modo, sendo um peso, um fardo pesado e incômodo aos demais, ocupando seu tempo e suas mentes com minhas fraquezas emocionais, com minhas constantes mudanças de humor.
Eu ainda sou um problema para mim mesmo, mas devo sê-lo apenas para mim.
Embora a mente esteja elétrica, e os compromissos se multipliquem na agenda para as próximas semanas que serão, não apenas caóticas, mas exigirão uma disposição e paciência tais que não poderia ter jamais nem em dez vidas, mas que de algum modo, seja medicado ou com a cara cheia de café e energético, eu terei que providenciar.
Parece que o sol saiu um pouco mais novamente.
Droga.
num quarto de hotel
acima do beco
onde os pobres recolhem garrafas;
fazer amor no sol
fazer amor sobre um carpete mais rubro que nosso sangue, fazer amor enquanto meninos vendem manchetes
e Cadillacs,
fazer amor junto à foto de Paris
e ao maço aberto de Chesterfields,
fazer amor enquanto outros homens-pobres
coitados trabalham.
Daquele momento - a este...
talvez sejam anos na medida comum,
mas é só uma frase na minha memória -
são tantos os dias
em que a vida para e desliga e senta
e espera como um trem nos trilhos.
eu passo pelo hotel às 8
e às 5; há gatos nos becos
e garrafas e vagabundos,
e eu olho a janela e penso,
não sei mais onde você está,
e sigo andando e me pergunto pra onde
a vida vai
quando ela para.
(Bukowski)
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