sábado, 3 de agosto de 2024

Entre o Sol e as Nuvens

Me encontro em plena personificação do pessimismo. É um dia qualquer, não está nublado e sombrio, mas também não há sol. Não há muito movimento, e eu queria poder voltar para minha cama, ou tomar um copo bem quente de cachaça. Poderia me atirar escada abaixo, na esperança de conseguir um fisioterapeuta gostoso como o personagem do Garfield em This Love Doesn't Have Long Beans, mas conhecendo a minha sorte, eu no máximo teria que trabalhar machucado mesmo. Daqui da janela vi que o sol brilhou rapidamente, mas logo se envolveu nas nuvens de novo. 

Em mais uma ciclagem, me encontro agora com a mente desperta e ativa, naquele giro típico dos dias de hipomania. Odeio ser assim. Ontem eu estava naquele estágio letárgico, melancólico e carente. Sobrou ao meu afilhado e amigo aguentar meus devaneios e filosofemas afetivos sobre o amor, o conhecimento e tudo mais... Embora esses questionamentos estejam sempre em minha mente e coração, não quero mais os externar desse modo, sendo um peso, um fardo pesado e incômodo aos demais, ocupando seu tempo e suas mentes com minhas fraquezas emocionais, com minhas constantes mudanças de humor. 

Eu ainda sou um problema para mim mesmo, mas devo sê-lo apenas para mim. 

Embora a mente esteja elétrica, e os compromissos se multipliquem na agenda para as próximas semanas que serão, não apenas caóticas, mas exigirão uma disposição e paciência tais que não poderia ter jamais nem em dez vidas, mas que de algum modo, seja medicado ou com a cara cheia de café e energético, eu terei que providenciar. 

Parece que o sol saiu um pouco mais novamente. 

Droga. 

parada

Fazer amor no sol, no sol da manhã
num quarto de hotel
acima do beco
onde os pobres recolhem garrafas;
fazer amor no sol

fazer amor sobre um carpete mais rubro que nosso sangue, fazer amor enquanto meninos vendem manchetes
e Cadillacs,

fazer amor junto à foto de Paris
e ao maço aberto de Chesterfields, 
fazer amor enquanto outros homens-pobres 
coitados trabalham. 

Daquele momento - a este... 
talvez sejam anos na medida comum,

mas é só uma frase na minha memória - 
são tantos os dias 
em que a vida para e desliga e senta
e espera como um trem nos trilhos.

eu passo pelo hotel às 8 
e às 5; há gatos nos becos
e garrafas e vagabundos,

e eu olho a janela e penso, 
não sei mais onde você está,

e sigo andando e me pergunto pra onde
a vida vai
quando ela para.

(Bukowski)

Nenhum comentário:

Postar um comentário