quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Flores caídas

"E eu, pobre, que farei, que patrono invocarei?" (Dies Irae)

Toda vez que penso me aproximar de algo, toda vez que, parece-me, vou conseguir sorrir e conquistar algo, por mínimo que seja, vem o fracasso, uma onda gigantesca que destrói tudo, que reduz todos os sonhos, por mais breves e bobos que fossem, a nada. É sempre assim. Eu não posso sonhar, não posso querer nem mesmo uma pequena felicidade que ela me é arrancada das mãos com violência. É como se tentasse segurar a fumaça, ou deter a luz do sol poente por entre meus dedos enquanto a noite se aproxima.

A vida é, nesse sentido, uma sucessão de desgraças brutais. E os homens continuam, dia após dia. Alguns devem viver melhor do que outros, é por isso que a vida parece, no geral, algo suportável e até bom. São alguns poucos que dão impressão. Um exame mais atento, no entanto, mostra que não passa de uma mentira criada para que a gente acredite que há esperança, que com esforço vamos conseguir. Não vamos. A vida é, para a maioria de nós, uma sucessão de desgraças brutais, onde apenas nos distraímos com a falsa esperança daqueles poucos que conseguiram algo diferente.

Quando pensamos que nos livraremos de pequenas dívidas, aparecem dívidas ainda piores. Passamos pelas ruas e multiplicam-se os preços, percebemos necessidades que não precisávamos antes, somos iludidos por um materialismo que dita que seremos felizes após as próximas conquistas. Mas depois das próximas há ainda outras, e outras. Nada pode nos fazer felizes. "Nada pode me encantar na terra, a verdadeira felicidade não se encontra aqui" dizia Santa Terezinha. Quando conquistamos algo, aparece outro objetivo, e nos vemos infelizes diante das possibilidades que se abrem, mas que se mostram como necessidades. Quando pensamos findar um suplício aparece-nos à porta um algoz ainda mais sanguinário. Não se iludam, não há esperança, ao menos não para nós. 

Vim caminhando nessa manhã fresca, não faz mais frio como alguns dias atrás, e algumas flores caídas no chão me chamaram atenção, achei-as belas. Minhas pernas doem como se tivesse feito algum exercício. Tentava encontrar alguma saída para o problema financeiro em que me encontro. Sem sucesso. Nenhuma instituição financeira confia mais em mim, e com meu descontrole habitual, todas têm razão. 

Há alguns quarteirões daqui uma grande grua eleva pedaços pesados de um prédio anormalmente grande para essa área. Queria que alguma daquelas peças caísse sobre mim e acabasse logo com isso. Seria bem mais fácil. 

"esse negócio de nascer. e de morrer. cada um na sua hora. a gente chega sozinho e vai-se embora do mesmo jeito. e a maioria passa a vida inteira sem ninguém, assustada sem entender nada. Uma tristeza indivisível tomou conta de mim. Vendo todas aquelas vidas que teriam que morrer. Que primeiro se transformariam em ódio, demência, neurose, estupidez, em crime, em nada - nada na vida e nada na morte." (Charles Bukowski)

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