segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Fragmentos

Muitas vezes já tratei da forma como, a medida em que passa o tempo, modificamos nossa forma de ver o mundo e encarar a vida e seus problemas. Surpreendo-me ao olhar no espelho e muitas vezes não reconhecer a figura que nele vejo refletida.

Como podemos mudar tanto em tão pouco tempo? Como algo que nos proporcionava tão doces e deleitosos sorrisos pode ser agora razão de asco e repulsa? O poeta tinha razão em afirmar que a mão que um dia nos afagou é a mesma que um dia há de nos apedrejar. 

O amigo que um dia jurou fidelidade e gratidão no momento de sua aflição foi o primeiro a dar as costas quando não mais precisava do outro. As vezes algo se quebra, e por mais que se tente consertar, dificilmente será como era antes. A amizade é como um cristal fino, não pode ser restaurada. Sinto como se tivesse sido partido em mil pedaços, mas não por um amante, mas por um amado em quem depositei a minha confiança, e que, quando não mais precisava de mim, apenas deu-me as costas e partiu para terras distantes. 

Como o poeta também lançarei pedras as mãos que me afagam, e não aguardarei pelo momento do escarro da boca que me beija. 

A solidão do homem não é senão um trágico destino, mas se encontra impressa desde a epigênese em seu âmago: o homem nasceu para viver só, e morrerá só, apenas desejando para si uma companhia real. E o último vislumbre dessa vida, em seu leito de morte, quando o manto negro se estender por sobre sua vista, será o do rosto do destino, contorcido de prazer, ao ver o resultado de toda uma vida de tortura. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário