terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Piada cruel

Nosso destino é uma existência cruel. Nossa existência é uma piada cruel. A dicotomia do cosmos, sua organização mais básica, desde a mais elementar das estruturas da realidade é uma grandessíssima piada. Viver é como uma grande pantomima num teatro onde aplaudimos e atuamos, recebemos aplausos e vaias, em meios aos risos de nossas patéticas tentativas de acerto.

Contar uma história, sua história, não é diferente do que escrever uma comédia pastelão. A vida se encarrega de nos fornecer o mais detalhado e imprevisível dos enredos, e no fim, não apenas o personagem principal, mas também o autor é alvo da risadaria estapafúrdia. Isso porque o nosso próprio suspiro inaudível no limiar da história é para o destino um momento de deleite. Nossa morte não seu idílio, é seu tédio, o seu idílio consiste na tortura, completa e complexa do gênero humano, em sua forma mais cruel, onde não há luta nem possibilidade de defesa: seu coração!  

A existência humana se configura, se perfaz e se mostra no conjunto da realidade do mundo material então como uma grande roda da fortuna, um grande teatro macabro, uma experiência helicoidal que, sem princípio ou fim, sempre retorna do seu ponto de partida ao seu objetivo, nunca chegando ou partindo verdadeiramente a lugar algum. A vida é uma piada cruel e seu ponto mais alto é a loucura absoluta!

Nos vemos então presos num eterno ciclo de dor, horror, alegria, júbilo e mais dor. Contrapondo-se entre o bom e o mal, entre o terrível e o fabuloso, o destino revela-se um atormentador não só eficiente, mas O Atormentador, que nos fura, corta, rasga e envenena de todas as formas possíveis e imagináveis, sempre usando do princípio de que, uma centelha de esperança provoca na dor e no desespero um sabor mais agradável ao seu pervertido paladar. 

A nós não nos é permitida nenhuma possibilidade de fuga, nem sequer a morte é uma possibilidade, afinal, seu teatro macabro perfaz sua existência no limiar da eternidade, no vácuo extratemporal do ínfimo instante ao qual chamamos de vida!

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