sábado, 30 de dezembro de 2017

Sobre fluxos e vidas

Os últimos dias foram dedicados a uma breve viagem, a casa de alguns parentes em Minas Gerais, e as próximas linhas são reflexões que fiz nas poucas horas que se cercaram entre a partida e a chegada, ao destino e a minha casa. 

O contato com a natureza é algo estranho pra mim. Sendo sincero me deslumbro com as paisagens idílicas, as formações rochosas exuberantes e a imensidão inspiradora que é o campo. Infelizmente a minha compleição delicada me impede de ter a disposição, e a força, necessária para aproveitar essas experiências ao máximo. O que não significa que não aproveite, ao meu jeito.

A natureza me encanta, e isso pra dizer o mínimo. 

Na verdade a natureza me hipnotiza. 

A água cristalina, 

corrente, 

permanente, 

me recorda o fluxo da existência, das coisas que passam, se vão, mas não deixam de ser o que são. Heráclito disse que não entramos no mesmo rio duas vezes, e de fato quando entramos num rio suas águas já não são as mesmas de alguns instantes atrás, mas o rio ainda é rio e isso me ensina que a mudança não desfigura nossa existência mas, antes disso, garante essa mesma existência. 

Pensei no quanto minha vida mudou, 

nos últimos dias, 

no último ano, 

nos últimos 10 anos. 

Visitar uma paisagem que tanto marcou minha segunda infância, e que tentei esquecer na adolescência e agora retorno no início de minha vida adulta é uma grande aventura. 

As folhas e o barulho do vento, e das vozes, me emocionam, e mais de uma vez eu não consegui conter as lágrimas. Olhar os campos onde tantas vezes corri, as águas onde me banhei, as montanhas que tantas vezes observei com o olhar alegre, triste, ou apenas curioso, me recordaram as muitas risadas e as muitas lágrimas que uma vida pode ter.

Assim como as folhas secas no chão contam a história de uma árvore as lembranças contam a história de uma pessoa. E assim como as folhas se acumulam, e as vezes precisam ser retiradas, as lembranças também precisam voar com o vento, para então se tornarem parte do todo que é a natureza mais uma vez, sendo para isso suporte de uma nova vida. As vozes que ouvi, as cores que vi, não eram as mesmas de tempos atrás. Mas o som delas me fez perceber que nossas vozes são nossas folhas. 

É bonito perceber também que nãos estamos apartados dessa realidade, desse todo. Também nós serviremos de alimento para uma nova vida, e também nós nos tornaremos sedimentos, e por fim, apenas lembranças.

O todo é permanente, mas as formas das partes que o compõe não são. 

E nós somos essas partes. 

Nossa vida não é, e nem deveria ser, extática. 

Nossa vida é fluxo, é devir, é fonte que corre. 

Vem o novo, vai o velho, e o todo continua lá. 

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