domingo, 3 de dezembro de 2017

Queda

Como descrever as horas que transcorreram no último dia? Como cantar ou poetizar o declínio  voraz que minha alegria experimentou, caindo do mais alto posto ao mais imundo dos lamaçais? Como dizer o quão grandiosa foi a derrota após uma pequena vitória, capaz de dar uma singela alegria a minha alma maldita?

Ó, como caíram os grandiosos, e como tornam a cair os que nem sequer são tão grandes assim. Como quisera poder descrever a doçura daquele olhar, e a paz que trouxe a minha alma naquele momento. Como quisera tornar aquele breve instante num infinito. Como quisera viver ali eternamente, sem precisar encarar os olhares de todos os outros. Habitando para sempre no âmago do seu ser, não  apenas nascido ser, mas tornado nós. 

A alegria daquele momento ínfimo foi tão fugaz quanto o próprio momento. Antes mesmo que pudesse me deleitar naquela idílica lembrança uma notícia me cobriu como ácido, e derreteu os meus circuitos responsáveis pela minha parca sanidade, tão dolorosamente construída nos últimos meses, mas de forma tão frágil que permitiu-se ser abalada. 

Talvez seja esta mais uma brincadeira do destino, que diverte-se vendo-me dançar em sua mão como um macaco. Talvez seja um sinal de que, de uma vez por todas, deva parar de crer que a felicidade é possível para todos. Talvez deva crer que algumas pessoas foram apenas criadas para sofrer, enquanto observam a felicidade dos outros, sob às custas de suas próprias lágrimas.

Percebo que são minhas lágrimas a regar a felicidade dos outros, e é as custas de meu sangue que seus sonhos são realizados.

A desesperança aos poucos toma conta do meu ser, em contrapartida as palavras do sacerdote cuja homilia ouvi enquanto contemplava a doce face de um anjo, o meu anjo, que nunca chegou a ser meu. 

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