quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Portais

Fechei os olhos por alguns instantes, enquanto me concentrava nas palavras metálicas do sacerdote que, do ambão, proferia seu sermão no dia de Santa Luzia. Por alguns instantes vislumbrei alguns dos cristãos que foram brutalmente martirizados em nome de sua fé pelo império romano, e que incluíam a jovem Luzia, morta a época do Imperador Diocleciano. 

Talvez como que numa relação de magnetismo o meu centro de equilíbrio foi balançado, e senti que próximo a mim uma força se aproximara. Silenciosa, quase imperceptível, possivelmente invisível aos olhos de todos os outros, materializou-se um ser de luz. 

Okay, admito que nada se materializou de verdade, isso foi só a minha veia poética dizendo que alguém se aproximou de mim. Mas mesmo sentando há alguns poucos metros de distância eu podia sentir a sua presença, tão forte e esmagadora como se me pressionasse contra o chão com o peso de dezenas de toneladas.

Ao término da Divina Liturgia, fui interpolado pelo seu olhar divino, hipnotizado por aqueles portais para um paraíso azul, onde o frio e o calor de uma personalidade dúbia se mesclam numa dicotomia única nesse mundo. 

O demiurgo riu-se de mim naquele momento, em que sua criação mais perfeita foi posta ante sua mais deformada, e o disparate que cruzou meu pensamento num lampejo de esperança infundada lho deu um prazer doce como mel. 

Em mim, por outro lado, o sabor deixado foi o azedo, causado pela distância que no instante seguinte se instaurou entre nós. 

Divertiu-se com minha expressão lânguida e escura? Meu horror em constatar o óbvio lhe causou prazer, oh temível senhor da fortuna? Espero que minha carne em chamas tenha lhe dado a alegria que buscavas em plasmar tão grandioso teatro, apenas na intenção de me matar...

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