segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Um sorriso se apagou. Uma voz se calou.

Eu acordei e abri meus olhos sonolentos
Em pouco tempo será amanhã de novo
Em um piscar de olhos, uma dia passou, tão triste
Meu coração tenta esconder*

Acordei nessa ensolarada, porém igualmente cinza, manhã de segunda com uma triste notícia, capaz de me levar a refletir, mais uma vez, acerca dos meus próprios valores e da forma como enxergo a minha e a vida dos outros ao meu redor.

Kim Jonghyun, vocal do grupo coreano SHINee, cometeu suicídio em seu apartamento no último domingo. Pouco tempo antes ele mandou algumas mensagens a sua irmã, que chamou a Polícia, e que confirmou sua morte ainda a caminho do hospital. É sabido que ele lutava com a depressão já há alguns anos, e as últimas fotos do seu Instagram deram indícios de suas intenções.

Pois bem, antes que comece a me debruçar sobre esse fato preciso dizer que não compartilho das mesmas intenções que a maioria tem ao tratar sobre o suicídio, seja de pessoas famosas ou não. Aqueles que escrevem sobre sempre falam como a depressão é silenciosa aqueles que convivem com ela, ou de como precisamos ser mais atentos ao outro. Também falam acerca da solidariedade comum, em que, mesmo não conhecendo tal artista ainda devem mostrar algum tipo de comoção, como se a demonstração, ou não, de alguma comoção fosse uma espécie de termômetro social em que se mede o nível de humanidade das pessoas. Essas coisas me incomodam.

Primeiramente é óbvio que ele, sendo um idol literalmente do outro lado do mundo, não exercia sobre mim mais do que as influências de suas músicas ou o afeto pela sua imagem já tão familiar a mim. Mas mesmo estando tão distante a notícia me abalou mais do que a morte de pessoas que me foram muito próximas. 

É estranho o fato de que alguém tão distante, a quem nunca tive a menor pretensão de conhecer pessoalmente, exerça tal influência sobre mim. Isso só me mostra, e reforça, a convicção que tenho acerca da linguagem universal da música. Ora, Jonghyun era conhecido pela voz poderosa e pelo destaque essa mesma voz tinha nas baladas românticas. De fato a sua mensagem pôde ser dita a mim através de um idioma completamente distinto do meu, e ainda assim compreendida em sua totalidade. 

O tempo passa sem controle
Nossos sentimentos sensacionais
Tão confortável que você se sente
Como se fosse normal
Esses pensamentos me deixam triste*

Isso me mostra o quão errado estão os que defendem a não audição de musicas internacionais pura e simplesmente porque não se entende o que dizem. Discordo absolutamente, pois a mesma se diz numa forma de comunicação distinta da linguagem idiomática, e sendo uma forma superior, apenas pode se fazer uso desta, sem que dela se torne dependente. 

Mas passemos adiante. Já não mais adianta lamentar a falta de atenção da família e amigos, não há mais nada a se fazer quando algo se consuma dessa maneira. Nem tampouco creio que seja produtivo tentar buscar indícios, motivos, o que quer que tenha sido. 

Também não compreendo completamente a busca pela comoção do outro. Se a dor é nossa, daqueles que a sentem nesse momento, não há razão para buscá-la no outro, mas apenas vivencia-la em sua intensidade e dela tentar abstrair algo de produtivo. As pessoas não compreenderão a dor por alguém tão distante que se foi, apenas quem sentiu algo semelhante pode se solidarizar com isso. 

O fato é que perdemos uma grande estrela. Dono de uma voz sensacional, que muitas vezes tentei imitar, e de um carisma contagiante. Não consigo me recordar as inumeráveis vezes que tentei imitar seus passos de dança na frente do computador, ou do quanto me encantava seu sorriso, que até pouco tempo ocupava a tela do meu celular, para que pudesse ver com mais frequência. Muitas vezes repetia a mesma live por horas, apenas observando o seu sorriso aberto, tão sedutor, e sua presença magnífica. Um dos meus primeiros idols na música coreana. E agora se foi... 

Um sorriso se apagou. Uma voz se calou. Grande a perda pro mundo. Junto com tantas outras inumeráveis perdas da mesma forma trágica, ainda tão incompreendida a todos nós. 

Nossas histórias, empilhadas como memórias
Vão continuar hoje

Em Honesty, minha faixa favorita do grupo, Jonghyun canta que a partir daquele momento as nossas histórias (do grupo e dos fãs) se cruzariam pra sempre. E de fato penso que seja assim, afinal sua voz pra sempre ficará marcada nos nossos corações. Em outra frase, versos depois, ele agradece aos shawols pelo ódio que eles recebem em seu lugar. Mudando o ponto de vista agora eu percebo que nós é que deveríamos cantar isso a ele, por ter suportando tanto e sozinho, mesmo estando sempre rodeado por tanta gente. 

Sempre ali, me protegendo
Sempre recebendo o ódio que eu deveria ter recebido
A imagem de você me abraçando
Sem nenhuma palavra e agora
Eu que vou abraçar você

E a nós, fãs, o que resta? O sentimento de insuficiência, de falha para com aquele que dizíamos amar. A tristeza pela voz que agora ecoa em nossos corações e a saudade, que será muita cada vez que esse grande nome for por nós evocado. Também nos resta o apoio aos meninos que restaram, e que também passam por dificuldades. 

Sua pequena mão
Se torna minha maior fonte de força...

(*Tradução de trechos de Honesty - SHINee)


Descanse em paz, grande estrela, brilhe agora para nós lá do céu!

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