sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Eu e o outro

O inferno são os outros (Sartre)

Onde está a possibilidade de abarcar a totalidade da existência? 
Onde está o eu absoluto, que não sofre com os espinhos do meu eu e do outro?

O que são os outros? 
Onde está o limite do meu eu? 
Como lidar com os outros, que não são eu? 

A linha não tão tênue assim, que separa o meu eu dos outros é a causa da dor de todos. O escudo de nossas consciências é a úncia arma realmente capaz de ferir, pois esse mesmo escudo é o o motor de todas as outras armas criadas pelos mesmos homens para se matar. São estas apenas ferramentas da nossa consciência para maltratarmos uns aos outros.

A individualidade é uma guerra constante, que teve início na busca pelo preenchimento daquele vazio que o homem tem em seu âmago desde o primeiro pensamento, e que culminou na descoberta da dor do outro como forma de regozijar o próprio eu no sofrimento. 

Somos todos como ouriços, tentando viver em comunidade, pois a verdade é que somos fracos demais para a solidão, e ruins demais para a viva em unidade. O meio termo entre a unidade e a solidão é a patética existência do homem. Machucando uns aos outros, sangrando uns aos outros, espinhando uns aos outros.

Isso é viver. 
Viver é matar e ser morto constantemente. 
Isso é a individualidade, é seu eu, é ser outro. 
Isso é a dor. 

O limite do meu eu é a dor do outro, e o outro, a existência do outro, é a causa única da minha dor. Onde está então o Projeto de Instrumentalidade Humana, que nos forçará a evoluir, e a viver sem o outro? 

Sendo apenas um com todos a dor deve cessar. 
Sendo apenas um com todos a morte deve findar. 

Onde está a possibilidade de abarcar a totalidade da existência? 
Onde está o eu absoluto, que não sofre com os espinhos do meu eu e do outro?

Isso tudo se deve a dificuldade em lidar com o outro, ser paciente com o outro, tentar não ferir o outro. Mesmo sendo difícil para outro lidar comigo, ser paciente comigo ou tentar não me ferir. 

Tenho ciência de que isso se deve a uma compreensão errada da realidade, e portanto a uma deficiência, e também a uma latente covardia, mais um exemplo da péssima pessoa que sou. Mas ainda assim depois de tudo isso, ainda não consigo ver facilidade em lidar com as crises do outro, sendo esse mesmo outro o principal motivo das minhas crises, sendo esse outro o limite da consciência que mais me causa dor.

Tenho consciência ainda, de que minha paciência atingiu o limite do ego, e que isso significa, que já não tenho mais paciência pra quem não tem paciência comigo.

Onde está a possibilidade de abarcar a totalidade da existência? 
Onde está o eu absoluto, que não sofre com os espinhos do meu eu e do outro?

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