quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Não restou nada! Pt. 2

Eu sentei mais cedo, pensando em escrever, mas não consegui pensar em nada que não fosse uma lista quase infindável de palavrões e ofensas muito bem dirigidas que, no entanto, não deveriam ser ditas em voz alta por ninguém, quanto mais escritas.

Não pelo fato de ela não merecer, pois ela merece e muito, mas pelo fato de que sei não ser saudável para mim cultivar esse tipo de coisa. E no entanto isso também não pode ser ignorada.

Ontem experimentei de novo o sentimento do sangue que se tornou veneno e que passou a correr nas minhas veias. Nada mais doloroso do que sentir o ácido e depois não sentir mais nada.

Queria dizer o que me levou a isso, mas muito do que disse, do sentimento de impotência frente aquele que é importante pra mim, já foi dito quase a exaustão aqui. E nada mudou. Só o que aconteceu foi a constatação dessa minha impotência e insignificância.

Não pode haver mais nada em mim além dessas duas coisas pois tudo se foi, e não restou mais nada. Apenas a casca formada de impotência e insignificância.

Desculpe, mas não há aqui mais palavras, ou sequer belos aprendizados. Nem mesmo há um poema sobre a beleza de dor. Há apenas a constatação de um homem que descobriu não ser mais uma pessoa, mas um simulacro humano, formado por nada mais do que uma aparência externa e uma personalidade impotente e insignificante.

Eu tentei ser o melhor que pude, tentei ser um apoio, estudei para que pudesse melhor responder a suas perguntas, fui paciente, carinhoso, ouvi a todos as suas dores e reclamações. Mas nada isso foi suficiente para que me considerasse digno de andar ao seu lado e segurar sua mão. Tudo o que foi inútil, de nada serviu. De nada serviu.

Eu passei meses te ouvindo. Fiz o que pude pra te compreender, pra secar suas lágrimas, pra te ver sorrir. Você dizia que só confiava em mim quanto a tudo isso, e que ninguém ia sequer saber que passou pelo que passou. Mas foi só ela chegar e você mudou sua palavra. Em dias você contou a ela tudo o que dizia ser difícil demais contar pra outra pessoa, e quanto o alertei sobre o quão perigosa ela pudesse ser, você logo a colocou em meu lugar. Tudo aquilo que fiz de nada serviu.

E agora não há mais nada aqui. Não há mais vontade de servir, ou de ser importante. Não há mais disposição para ser melhor. Não há nada. Não restou nada. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário