quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Sobre escrever

Desde pequeno eu aprendi que as palavras tinham forte poder. Minhas professoras diziam que escrevia bem, e com efeito minhas notas sempre foram excelentes, principalmente quando podia escrever livremente. E ainda que discordasse delas, continuei escrevendo, e passei a gostar do que fazia.

Sempre tive dificuldade de entender o que significava o tal poder das palavras. Quando cresci, no entanto, aprendi da pior maneira que elas tem poder para ferir, e embora também possam curar, aprendi que não curam tanto quanto matam. 

Muito embora as palavras possam soar mais letais que tiros de canhão, e cortarem mais fundo do que o aço frio de uma espada, elas ainda são incapazes de transmitir a exatidão de uma alma.

As pessoas continuam dizendo que as palavras tem poder, mas isso não é verdade, pois elas tem poder como arma, mas não como transmissoras dos afetos de nossa alma. Quanto a isso, seus símbolos continuam rasos e sem significado. 

Claro que o horror que elas podem transmitir também são afetos da alma, mas quando tentam transmitir o amor, ah, aí elas se tornam completamente opacas para quem as ouve, e quem as diz se sente como que balbuciando sons ao vento, sem que tenham mais valor do que o barulho que faz uma pedra ao cair no chão. 

Percebi então que me derramar em palavras, sejam as mais belas e doces numa carta apaixonada, ou as frias e secas palavras numa noite escura da alma, ainda assim elas serão sempre incapazes de abarcar a totalidade do que sinto e penso. 

Some-se então a insuficiência da linguagem a minha incapacidade e tudo o que me resta são palavras multiplicadas em seu próprio vazio. 

Qual o sentido de continuar a escrever, então? Nem mesmo eu sei responder a isso. Continuo a escrever pois, mesmo insatisfeito com o que aqui digo, ainda necessito de dizer. Então quando me debulho em lágrimas ao escrever, ainda me sinto revigorado, mesmo que não tenha conseguido dizer o que se passava dentro de mim, da forma como se passava dentro de mim. 

As palavras são, para mim, uma válvula de escape. Uma necessidade que tenho de dizer, e ainda que não consiga dizer aquilo que quero, da forma que quero, só o fato de dizer algo já me acalma, já faz de mim um pouco mais feliz.  

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