terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Não restou nada!

Alcancei um novo estágio de ódio. Não sabia que meu corpo tinha capacidade de suportar tanto rancor sem desfazer-se em cinzas de ira. 

Já não sinto mais o gosto do sangue, que me era comum ao sentir raiva, mas apenas a boca seca, bem como meu coração, que derramou todo o amor que ali havia para abarcar apenas todo ódio que no mundo pudesse abarcar. Não restou nada!

Até mesmo ânsias assassinas que antes me assolavam o pensamento e dominavam minha carne se foram. Restou apenas uma casca vazia, sem conter em si nem sequer uma centelha de vida. Não restou nada!

As lágrimas foram as únicas que ainda não secaram, pois as segurei com toda a força que restava ainda na minha carne, que já começara a se desfazer e apodrecer.

Apodrecer. Mas não restou nada para apodrecer. Não restou nada!

O desejo do meu corpo é desfazer-se na frialdade da terra, e não mais viver a contemplar a glória dos meus inimigos. Não restou nada!

Não há nem sequer mais palavras em meu interior que deseje despejar. Não restou nada!

Nem mais loucura, nem mais esperança, nem sequer desilusão. Tudo se foi, tudo se foi, tudo se foi. Não restou nada!

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