sexta-feira, 18 de maio de 2018

Antes de dormir

Algumas pessoas tem certos rituais para antes de dormir. Tem quem goste de um banho quente, após um longo dia de trabalho. Tem quem quem goste de ler um livro ou tomar um chá. Os jovens preferem ficar na internet até o sono vir, e tem eu. 

Eu sempre me preparo pra dormir quando já estou assustado demais para fingir viver com os pensamentos assombrosos que assolam a minha cabeça, quando já começo a sentir as lágrimas vindo, e quando sinto que o fantasma das verdades dolorosas vem para cortar a minha alma com aço frio. Eu sei que devo dormir quando sinto serei torturado pela noite inteira, e que precisarei recorrer a algum tarja preta na esperança de conseguir algum momento de descanso. 

Mas eu nunca encontro descanso algum. Por mais que durma durante oito, dez, doze horas seguidas eu estou sempre cansado, como se sequer tivesse ido me deitar. Com efeito, quando por algum motivo durmo por três ou quatro horas, o meu cansaço é o mesmo. E ele nunca me deixa, como se constantemente carregasse uma pedra ainda mais pesada do que o meu próprio corpo. 

Quando esse peso começa a se tornar insuportável, eu sei que é hora de tomar um remédio e de misturar com uma boa dose de vinho para que eu me apague o quanto antes e não precise contemplar os quadros assustadores que minha consciência pinta para mim usando as tintas que a cruel realidade lhe dá... Quando o mundo perde a cor, quando a vida perde a graça, quando a música perde o som, essa é a hora de dormir. 

Esse é o meu ritual diário antes de dormir. Pensar, entrar em desespero, chorar, me dopar, e por fim finalmente mergulhar no oceano da inerte escuridão benzodiazepínica do prazer, para então no dia seguinte ver o sol nascer, levando consigo aquela escuridão maldita que eu sei vai retornar na noite seguinte, refletindo as trevas que habitam o meu coração...

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