sábado, 19 de maio de 2018

Sobre a chuva e o sangue

A beleza da tarde clara que foi transformada em dia cinza pela força de uma tormenta me encantou e me levou a refletir: cada pequena gota de água a se chocar violentamente contra o vidro ou o chão era como um golpe covarde no meu coração, já esmagado pelo peso dos meus pecados, agora destroçado pela sua ausência. 

Essa mesma chuva, que caiu no meu e no seu coração, tem para nós significados distintos. Enquanto para mim é o sinal da morte de meus sentimentos por você, prefigurada no destroçar das gotas no chão, para você é oportunidade de se aproximar cada vez mais de seus amores. Essa mesma chuva, prenunciando acontecimentos diferentes, alegrias e tristezas diferentes. 

A chuva que é também semelhante as grossas lágrimas que caem em meu colo, nascidas do horror que é saber não ser amado por você, é também sinal da pureza que nasce de seu novo amor, o mesmo que servirá de prelúdio para minha morte. 

É só uma chuva, mas ao mesmo tempo me levou a pensar em tantas coisas, tantos momentos, tantas verdades. Ao menos o barulho que ela faz ao cair no telhado abafou os gemidos do choro que, no escuro do meu quarto, veio sem que eu pudesse conter. 

Mais uma vez chorei no silêncio do meu coração, sem que ninguém além da chuva soubesse que chovia aqui tanto quanto lá fora. Mas as coisas são sempre assim, as dores ficam no silêncio da tempestade, enquanto as alegrias supostamente são como borboletas ao vento, encantando o mundo por onde quer que passem. 

A minha tristeza é acordada pela sua alegria. O seu riso apaixonado é como o punhal da morte cravado no meu peito, fazendo jorrar ao chão o peso do sangue do meu coração, em uma outra analogia com a chuva. Você faz chover o meu sangue, transformando em vermelha a tarde cinza  do meu coração. 

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