terça-feira, 15 de maio de 2018

Depois do véu

O Sol brilha forte lá fora, e enche as coisas de cores vivas. Até mesmo aqui dentro eu vejo coisas belas e vivas, mas elas já não tem significado para mim. E meu coração é sempre cinza, chuvoso e solitário, e a luz do sol já não consegue mais aquecer o meu interior, venha ela do céu ou do coração de um anjo seu.

A sensação que se instaurou em mim é da incompetência generalizada, uma insuficiência total, que faz de mim uma casca vazia, sem objetivos a serem alcançados e sem missões a serem cumpridas. Apenas ocupo um lugar no espaço, aguardando impacientemente o dia em que a morte me libertará dessa existência patética e sem propósito.

Os desejos se foram, junto com os sonhos e as esperanças, e agora o que restou foram apenas migalhas, ruínas empoeiradas de um amor que um dia me fez ter força e vontade para viver. Quem quer que olhe para mim agora não vê mais do que um boneco de trapos, inanimado, sem aquela centelha divina que faz brilhar o olhar daqueles que estão vivos. 

Ele levou, mesmo sem perceber, tudo o que restava em mim. Os sonhos que tinha de viver ao seu lado, a esperança que tinha de despertar nele o amor, o desejo de me deitar em seu colo e repousar em seus braços. Mas isso se foi, e todo o belo palácio de cristal que construí com meus sonhos ao seu lado se desfez em poeira como a areia no deserto, soterrando o que restou em montantes onde nunca mais serei encontrado.

Já não faço mais questão de estar aqui ou em outro lugar. Já não faço mais questão de existir. Me reduzi a um niilismo sem admiração por nada além da própria morte. Ainda que minhas forças tenham se reduzido de tal modo que já não há em mim poder nem mesmo para provocar a morte. 

O que vem depois disso? O que pode haver por trás do véu negro que agora recobre o palco da minha vida? Apenas o abismo sem fim  da escuridão que pela eternidade me levará ao nada? Ou encontrarei o chão frio e duro que, de uma vez por todas, me levará ao fim? 

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