segunda-feira, 7 de maio de 2018

Sobre sumir

Li em algum lugar algo que falava sobre sumir, por alguns dias, e ir para alguma pousada desconhecida em qualquer lugar distante, e ficar ali, onde ninguém possa nos achar. E achei a ideia altamente tentadora. Pra ser sincero, é algo que venho querendo fazer nos últimos dias. 

Cheguei num ponto que tenho achado qualquer contato com o outro tóxico demais para ser mantido. Tenho estado tão sensível que tudo tem me ferido num nível alarmante. Me tornei uma ferida aberta, exposto a todo tipo de contaminação e de dor que se possa conceber. 

Não consigo compreender os sentimentos dos que me cercam, e nem tampouco os que me cercam se esforçam para fazê-lo comigo, mesmo que eles também não sejam capazes de me compreender. 

Eu acreditava que esse sentimento, essa vontade de sumir, seria temporária, e que logo eu voltaria ao normal. Mas agora eu percebo que a cada dia ela se apossa mais de mim, e a cada dia eu estranho mais o conceito de normalidade, chegando a crer que ela não existe, e que tudo o que há ao meu redor é o completo caos, que eu infantilmente acreditava ser capaz de compreender e transformar. Mas não, eu sou apenas uma pequena flor, rodopiando nos ventos impetuosos de um mundo que eu não sou capaz de mudar. Nadando contra uma correnteza incapaz de sair dela, sempre sendo puxado pra um lado, um abismo diferente.

A vontade de sumir é reflexo do medo, do desespero, que nasce de não querer ficar só, mas acidentalmente acabar se isolando de todos que se ama por não suportar a dor que lhe causam. É uma forma complicada de viver a vida, e apenas resulta em angústia permanente, e uma insegurança que nunca diminui, sempre à espreita, sempre esperando a hora certa de me devorar a carne, deixando apenas o tutano, os restos de uma existência perene, que nunca chegou a existir completamente. 

Nesse meio a oportunidade de desaparecer é tentadora. Mais até do que isso, é uma esperança doce numa terra árida de amor, é um poder sentar-se na beira da praia sem precisar lembrar-me de quem sou ou do que preciso fazer, é poder ser outra pessoa, ou não ser ninguém. É esquecer dos amores não correspondidos, das traições, das infames relações, de tudo aquilo que nos traz dor, insegurança. 

É correr sem ter um destino. É gritar e chorar sem me preocupar com explicar o que sinto, quando na maior parte das vezes eu não faço a mínima ideia do que estou sentindo, e nem sequer consigo explicar de onde vem a angústia que habita meu peito já há tanto tempo que passou a ser uma velha amiga. 

Sinto como se precisasse de um tempo só pra mim, mesmo já há muito não conseguindo pensar em outro que não seja eu. A percepção da solidão fez-me perceber que não deve haver em meu peito espaço para amar a outro que não seja eu, pois todo amor que dado ao próximo volta na forma de facadas e traições. 

É querer sumir, e fugir de tudo o que nos faz querer sumir. 

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