domingo, 20 de maio de 2018

Da verdadeira companhia

"Não me roube a solidão sem antes me oferecer a verdadeira companhia." Assim Nietzsche mais uma vez faz com que eu me identificasse com sua franqueza brutal. Essa é a frialdade característica que amanheceu imitando o frio que agora domina o mundo ao meu redor. 

Embora a neblina forte e o vento gélido atente violentamente contra o meu ser, apenas a casca fina do meu corpo é afetada, pois meu coração já não sente o frio, antes disso, apenas se sente em casa com a familiar temperatura. 

Gosto dessas comparações, o frio é tido como ruim e triste, enquanto o calor é considerado bom, feliz. Mas das coisas que venho sentindo, percebo que o calor pode ser tão triste e solitário quanto o frio. O que distingue a alegria da completa infelicidade é a companhia ou a solidão que na vida nos acompanha. 

Mesmo no frio de agora eu me lembro da alegria de um dia de sol, onde me deitei sob o seu peito quente, e a água fresca deslizava pelos nossos corpos se tocando. Mas você partiu naquele dia ainda claro, e a luz se tornou triste. 

Não importa então se há a luz ou não, mas a tristeza é sempre uma realidade presente, a nos amedrontar e a espreitar os recessos de nossa consciência como uma sombra que silenciosamente nos persegue e que barbaramente nos ataca. 

A frase que usei para iniciar essas linhas reverberam novamente na minha cabeça, desejando a verdadeira companhia, uma que não seja passageira, que não nos abandone quando as coisas ficaram difíceis, mas que seja sempre presente, da mesma forma como a ingratidão tem sido a companheira inseparável dos amantes de todos os tempos, condenados a vagar solitários pelo mundo por todos os tempos.

A verdadeira companhia é, para mim, isto: uma companhia que esteja ao seu lado independentemente das adversidades. Que nas aflições seja capaz de colocar as próprias dores no bolso para ir ao socorro do outro, como tantas vezes eu fiz e ainda venho fazendo, e que deseje estar presente, mesmo que a ausência seja o desejo mais profundo do coração, e continue a espreitar secretamente.

Talvez a solidão seja uma uma predestinação, como a felicidade ou a maldade, e não possa ser mudada apenas com as forças da limitada capacidade humana. Talvez seja uma linha intransponível, talvez seja algo que não possa ser mudado. Talvez tudo o que podemos fazer é tentar oferecer uma verdadeira companhia. Mas, infelizmente, não vejo hoje um mundo onde possam querer ser para o outro uma verdadeira companhia. Há apenas um disfarce da eterna solidão, com o véu negro da companhia que nós cegamente vemos como alegria... 

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