domingo, 9 de junho de 2019

Alegrias vazias

Queria ficar sozinho hoje, sem barulho, sem sorrisos forçados, sem brincadeiras falsas. Queria aproveitar a companhia da minha própria letargia, ou melhor, a companhia de um sono profundo, bem distante de tudo e de todos, onde poderia voar por ares tão longínquos que minha existência sequer seria notada. 

Também queria sua companhoa hoje, mas não uma companhia como aquela que me oferecia tempos atrás, não. Uma companhia como a que nunca tive, companhia verdadeira. Gostaria que me abraçasse nesse dia frio e me fizesse esquecer de todos os corações frios que há por aí. Mas isso também não é possível, você é só mais um coração frio.

E eu sinto que essa frialdade, maligna e quase inorgânica, tem afetado também a mim. Meu coração não tem sangrado como antes, mas apenas rachado, como o gelo duro que aos poucos se parte. Não há mais sangue, como se a vida que houvesse em mim tivesse derramado-se toda, restando apenas a secura de uma alma triste. 

O que é então a tristeza? É a ausência daquela luz que vem de dentro. É olhar para uma rosa desfolhada e ver apenas uma rosa desfolhada, e não a poesia de uma beleza que se foi e que, como num ciclo, um dia voltará a florir. 

Queria ficar só, pois aqueles que me circundam não oferecem verdadeira companhia, apenas barulho, confusão, e de confusão a minha mente já está cheia demais. Não poderei, no entanto, fechar-me no recanto seguro dos recessos de minha mente, senão que terei de colocar mais uma vez uma máscara de felicidade e apresentá-la ao mundo. Esse mundo maldito, cheio de aparências e de alegrias vazias em si mesmas. 

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