segunda-feira, 3 de junho de 2019

Na enxurrada

Não consigo olhar para frente, apenas fito meus pés no chão e sinto as lágrimas saindo de dentro de mim. Pés descalços no asfalto molhado. Corri até meu pulmão protestar em chamar, o gosto metálico na boca, o calor subindo em contraste com a chuva gelada. As gotas pesadas da chuva escorrem pela minha roupa já encharcada. De alguma forma eu consigo diferenciar as gotas da chuva de minhas lágrimas, ambas descem pelo meu rosto formando uma cascata em direção ao chão. Não sei bem mas acho que vi uma ou duas gotas de sangue se misturando e se perdendo na água, dos meus pés ou dos meus lábios, não sei ao certo. A vontade é de desaparecer como elas nessas águas, me perder em meio a essa imensidão, sem nunca mais dar sinal e nem notícia, afinal ninguém sentiria minha falta mesmo. Assim como aquelas gotas de sangue ninguém mais se lembraria de mim depois que me perdesse com o fluxo que passa. Minha vida seria como uma melodia curta que ninguém se dispôs a ouvir com atenção, ninguém se dispôs a entender sobre o que ela falava e, depois de esvaziada a sala de concerto, ninguém mais comentou sobre o que se passou. Assim sou eu, uma gota que se perdeu na enxurrada, indiferente ao rio onde deságuo. Essas águas terminam em lugares distantes, ninguém se preocupa em saber para onde ela vai, e assim seria comigo, gostaria de ir para qualquer lugar, desaparecer na terra e, quem sabe, ser útil para nutrir alguma vida já que fui inútil em viver a minha própria vida. 

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