domingo, 2 de junho de 2019

Das raízes

Não consegui segurar as lágrimas desde o fim da Missa. Além da Ascensão de Nosso Senhor celebrávamos também o sétimo dia de falecimento de um colega da igreja. Me senti tocado e as lágrimas brotaram.

Já fazia algum tempo desde a última vez que deixei que me vissem chorar, mas não consegui conter, já era demais pra mim. Muito tempo guardando pequenas chateações, pequenas coisinhas que magoam e que ficam ali, se acumulando, se multiplicando até saírem assim, em lágrimas. 

E enquanto elas lavavam meu rosto, pingando pesadamente sobre minha face, eu ia pensando em cada coisa que me fazia chorar. Ia pensando nos atrasos, nas faltas de compromisso, nas piadinhas comigo, nos meus fracassos, nas minhas desistências... Ia pensando em como não pude fazer nada para consolar aqueles que sofriam pela perda. Ia pensando nos abraços que gostaria de receber. Ia pensando em todas as coisas que desejei e que nunca poderei conquistar, ia pensando nas coisas que perdi, nas dores que tive de suportar pra fazer o outro feliz, pra ver o outro sorrir mesmo chorando por dentro. Até mesmo agora, ao invés de viver esse momento de expurgo, tento ajudar o outro que me pede socorro.

Será que sou confiável a ponto de confiarem suas dores a mim? Será que sou mesmo aquele a quem devam buscar apoio? 

Não me sinto capaz de ajudar ninguém, por mais que queira. Não me sinto capaz de realizar nem a metade das coisas que aqueles que me cercam realizam. Não me sinto capaz, esse é o sentimento que me domina! E assim, com as lágrimas tornando a cair, eu me vejo deitado, na esperança de que amanhã eu possa acordar um pouco melhor. 

E assim eu sou, estou, sensível a chorar por qualquer coisa, sendo consumido pelas raízes de meu próprio coração, me sentindo a pior pessoa da face da terra e incapaz sequer de escrever algo mínimo de qualidade estética a se exigir. É tão patético ser assim que sequer consigo me olhar no espelho. 

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