sábado, 15 de junho de 2019

Ser sufocante

Ei você, estranho, que tá lendo isso, você já se sentiu insuficiente pra alguém, tipo, pra qualquer pessoa? Já sentiu como se todo mundo fosse melhor do que você em todos os aspectos? Como se as pessoas pudessem ter parentes melhores, amigos melhores, namorados melhores? 

É assim que eu me sinto, cada minuto de cada dia de minha vida. Como se nada do que eu fizesse, desde o simples ato de me vestir até o de me aventurar no mundo da alta cultura filosófica, fosse bem feito, como se nada fosse suficientemente bom, como se nada fosse sequer digno de receber atenção humana. 

Tem dias que é sufocante ser assim. É olhar no espelho, passar horas pintando a cara com maquiagem e ainda se sentir incapaz de sair no mundo por não ter coragem de mostrar essa cara as pessoas, porque toda e qualquer pessoa merece mais do que ver alguém tão inferior, tão incapaz, tão insuficiente. É não ter coragem de conversar quando tudo que mais precisava era sorrir com alguém, ouvir uma ou duas palavras de carinho, mas acreditar não ser merecedor de nada disso.

É já não ter mais coragem de flertar, é olhar para alguém que goste e até mesmo ame e achar que qualquer outra pessoa, ou até mesmo ninguém, seria melhor na vida dela. É achar, saber e sentir, que ela pode encontrar alguém melhor, mais bonito, mais inteligente. É ter sido rejeitado tantas vezes que cheguei a conclusão que para algumas pessoas, ou simplesmente para mim, a solidão é a minha única companhia verdadeira. Que todos foram feitos para complementar seus pares, enquanto eu fui feito com um defeito grande demais para ser complementado. É não ter mais coragem de embarcar em nenhum relacionamento humano, por medo de ser insuficiente para qualquer pessoa. E é sufocante ser assim, cada minuto de cada dia da minha vida. 

As pessoas passam por mim, por minha vida, deixam marcas e levam consigo alguma coisa, mas tudo que consigo imaginar é o quanto todas sentem-se realizadas por se afastarem de mim, o quão é melhor pra todo mundo ficar longe de mim, o quanto sou vazio e desnecessário, ao ponto de, num encontro, precisarem chamar uma multidão porque a simples imagem de ficar sozinho comigo é uma coisa ruim demais para acontecer. Como se, tratando-se de mim, a distância fosse a melhor coisa.

Me sinto sujo, impuro e tão inferior que até ao olhar nos olhos das pessoas parece que me acusam de fazer algo impróprio. E tudo que eu queria era ser um igual, me sentir um igual, me sentir parte de alguma coisa grande de verdade, sem precisar competir por espaço, por status... Só queria não ser tão inferior, tão insuficiente, pra todo mundo. 

Só queria ser alguém. 

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