quinta-feira, 13 de junho de 2019

Das existências medíocres

Uma pausa nas minhas obrigações para dizer algumas coisas que estão me incomodando, como uma pedrinha no meu sapato. Os livros estão abertos aos montes na minha frente, e preciso preparar minhas aulas, além de cumprir um monte de outras burocracias sem sentido do meu trabalho. No meio disso tudo eu fico absorto em pensamentos, sem conseguir seguir o fluxo sem me preocupar como fazem meus pares, e meu coração ainda se entristece, com esse sistema inteiro, onde parece-me que para continuar sendo gente tenho justamente de abandonar aquilo que me faz homem: a minha capacidade de pensar e de refletir um pouco mais a cada dia. 

Me entristece ter de me conformar com um sistema corrupto, preocupado sabe-se lá com o quê, pois ainda não entendi qual a preocupação das pessoas. Não creio que seja apenas dinheiro, pois até isso elas conseguem deixar de ganhar, absortas numa forma morta de serem elas mesmas. E isso que exigem de mim: que me adapte num mundo, num trabalho, numa universidade, onde buscam objetivos que desconheço e que ninguém nunca vai alcançar, porque ninguém delimitou qual o caminho que devemos trilhar. Ficam todos como baratas tontas, para lá e para cá, todos os dias, levantando cedo e dormindo tarde sem, no entanto, conseguirem conquistar com esse esforço hercúleo nada de substantivo. Acomodam-se na mais medíocre das existências. 

Esse acomodamento cega ao ponto de reduzir o intelecto humano a bestialidade. As pessoas falam e se comportam como humanos, mas pensam como animais, incapazes de compreender o mundo que as cerca, preocupados demais com a realidade de seu provincianismo, dentro das paredes de seus trabalhos fatídicos, metódicos e inúteis. Perdem a capacidade de admirar o belo, não conseguem mais compreender o significado da poesia e ignoram até mesmo os olhares de carinho e ternura, ocupados demais com suas metas estatisticamente definidas para alcançarem sabe-se lá que resultado. 

E no meio disso tudo me sinto incapaz. Incapaz de romper com essa roda infernal, com esse ciclo infinito onde apenas a infelicidade é garantida, e incapaz de me adequar a ele, incapaz de me fazer igual a todos, pois algo dentro de mim pulsa para que busque a verdade além das grades da escola onde trabalho. O que também tem me tornado infeliz pois, passado quatro dias praticamente dopado afim de me recuperar de um cansaço acumulado que parece nunca se esvair, percebo que estou cada vez mais distante tanto da libertação dessa corrente horrenda, quanto da adaptação, continuando sendo incapaz tanto de um, quanto de outro. 

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