segunda-feira, 17 de junho de 2019

Sobre voar

O que estou sentindo?  - Perguntei a mim mesmo enquanto fechava os olhos num retorno movimentado dentro da cidade - Sinto vontade de dormir e de me perder em meio aquelas nuvens! - Disse sem pensar abrindo os olhos e olhando o céu aveludado que se abria sobre minha cabeça, iluminado pelas lâmpadas amarelas dos postes das ruas e das luzes das milhares de casas, que iam se unindo numa miríade de pontinhos que se perdiam na linha do horizonte. 

A música animada - RADWIMPS - no player não é suficiente para me despertar do torpor do cansaço. É incrível como os alunos conseguem me sugar até o tutano mesmo nas atividades mais simples. Chego cansado todos os dias, mesmo trabalhando apenas 4 horas pela manhã. Todas as tarde eu me deito esgotado, mas sequer consigo descansar por uma ou duas horas, já que quase sempre sonho com o colégio ou simplesmente não consigo dormir. 

Tenho me sentido distante. Em todos os sentidos possíveis. Distante de meus amigos, que parecem não se interessar mais pela minha amizade. Distante de minha família. Distante até mesmo de mim, já que em alguns dias eu me vejo no espelho e tenho dificuldade de reconhecer quem é aquele que me olha. Acho que me tornei outra pessoa, e não digo isso de uma maneira ruim, muito embora algumas coisas me incomodem. 

Sinto como não estivesse mais preso a tantas amarras que me prendiam, e a sensação de voar livremente me assusta um pouco. Acho que fiquei tanto tempo preso ao chão que me esqueci como era voar. É como aquele homem que, ao sair da caverna escura, se assusta com a luz do mundo e volta pra dentro dela, mas logo percebe que não consegue esquecer o mundo real e volta para lá, mesmo com a dor do mundo lhe cegando. É assim que me sinto. Voando pelo céu, ainda em lugares baixos, mas já livre das prisões que me fizeram crer com afinco que na verdade eu era apenas uma serpente. 

Quantas vezes eu me sentei aqui, de frente para o computador, e disse coisas horríveis sobre mim? Quantas vezes disse me sentir como uma cobra rastejando pelo chão e desejando voar pelos ares, quando na verdade apenas tinham cortado minhas penas? Agora que elas tornam a crescer eu já consigo saltar até voar. Tem sido difícil, e as marcas das correntes ainda doem, mas já não quero voltar pra lá só porque o chão me parece seguro: foi aquele chão que me fez crer ser incapaz de ver o mundo de cima, do céu!

E mesmo que esteja cansado de voar, porque ainda não me acostumei com a dor de ser outra pessoa, de ser eu mesmo, eu vou continuar voando. Posso parar para descansar, como hoje a noite, mas amanhã pela manhã tornarei a alçar voo para o céu, a fitar o sol do meu próprio coração. Sol real, não aquela aberração que via enquanto rastejava pelo chão. 

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