sexta-feira, 31 de maio de 2019

Depois da multidão

E mais uma vez depois que cessa o barulho da multidão que me cercava, e que abafava os gemidos do meu coração, sou lançado num oceano de silêncio e de profundo desgosto. Me sinto a pior pessoa daqui, o menos talentoso, o mais incômodo, o mais dispensável e trivial... 

Trivial

Sinto como se não fosse bom o suficiente para liderar, nem sequer bom o suficiente para seguir ordens simples. Me sinto como se fosse um animal bruto, incapaz de compreender comandos por mais simples que eles sejam. Me sinto indigno de olhar os outros nos olhos e ainda que racionalmente eu saiba que nenhuma dessas coisas é verdade eu ainda me sinto frágil, ainda me sinto como se não merecesse sequer ser chamado de homem. Me sinto invisível aos olhos de todos.

Frágil

E mais uma vez depois de todo aquele barulho dos que me rodeavam cantando, sorrindo e brincando, eu sou lançado em trevas profundas. E aqui, no escuro, enquanto tento abafar os gritos do meu coração com as notas da orquestra, eu choro em pensar que, se morresse hoje, não faria mais do que um favor ao mundo por deixar de insistir em uma existência tão patética, tão fraca e incapaz.

Incapaz.

Por conta dessa paranoia nojenta eu me vejo rastejando de novo, implorando por migalhas de atenção e carinho, obcecando em receber do outro alguma porção miserável do amor que falta em mim. Escuridão, mesmo enquanto olho para a luz ainda sinto que dentro de mim há apenas essa escuridão, fria e solitária. Uma solidão que, do fundo do abismo, grita que para sempre ficarei só, e que nunca serei importante para ninguém, nunca serei realmente bom em nada, que nunca serei de fato alguém. 

Lágrimas? 

Descontente demais para isso. A profundidade dessa angústia é tamanha que ela encontra apenas uma aridez descomunal. A mesma sensação de uma grande sala vazia e quente, absurdamente quente e tão seca que toda minha pele protesta em agonia pela falta da umidade, a mesma umidade que traz o frescor de um dia tranquilo... Só há o desconforto de um dia caótico, de uma mente distorcida, de uma mente prestes a desistir. 

Desistir... 

Palavra usada por homens fracos, fracos demais, para cumprir seus objetivos, para alcançar seus sonhos e aspirações. Estrou prestes a desistir e apenas não o faço porque não sei o que faria quando abandonasse tudo que tenho aqui. O que faria depois? A perspectiva de um futuro incerto demais me assusta. Mas não é exatamente isso que tenho agora? E quando penso em abandonar tudo me pergunto: tudo o que? O que eu tenho de tão importante, de tão especial, que não possa jogar no lixo na primeira esquina que me surgir? 

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