sexta-feira, 3 de maio de 2019

A TL salvou a RCC (e vice-versa)

Por: Prof. Carlos Ramalhete

Eu me lembro bem de quando começou essa coisa de RCC. Há um texto meu rolando pela rede chamado "Igreja, Sinal Sacramental da Salvação", que preparei para uma palestra que fui dar numa paróquia onde, como era mais a regra que a exceção, a RCC se havia instalado e estava tentando virar uma seita dentro do prédio da igreja. Eles se recusavam a ir à procissão do padroeiro, dizendo que era "idolatria", não queriam se confessar... Coisa muito feia. Naquela mesma época (coisa de 20 anos atrás, um pouco mais), o chefe da RCC do Vicariato Oeste da Arquidiocese do Rio, depois de ter gritado besteiras com um dedo na cara do padre durante a homilia, saiu da Igreja com todo o seu grupo e fundou uma seita dessas com caixa de som na porta. 

De lá pra cá melhorou **muito**.

Há outro texto meu, em inglês, tbm rolando por aí em que eu explico pq levo mais fé na catolicização da RCC brasileira que na da americana. Além do evidente fato de que aqui somos culturalmente católicos e lá não, aponto nele que a CNBB tentou segurar o crescimento da RCC obrigando-a a adotar práticas devocionais católicas (especialmente o terço), na ilusão de que isso a faria secar. Ao contrário: os RCCistas, que até então xingavam Nossa Senhora com a mesma desenvoltura dos seus professores nas seitas, passaram a desenvolver uma espiritualidade mariana própria. Claro que o orgulho e o igualitarismo protestante tbm deformou bastante essas devoções, em que falavam da Santíssima Virgem referindo-se a ela como "Maria" apenas, assim como fazem ou faziam com Nosso Senhor, Cujo Nome já vi até sendo usado pra testar microfone. Terço virando enfeite de bolso de calça pra combinar com a camiseta com imagem de santo e, alguns anos mais tarde, com a cruz episcopal com medalha de São Bento no meio tbm apareceu bastante. Mas o fato é que a CNBB TL, achando que estava demolindo a RCC ao usar contra ela o que Roma usava contra a CNBB, fê-la ao contrário crescer em fé e em piedade verdadeira. A TL salvou a RCC (e vice-versa).

Quanto à idéia completamente absurda de que a RCC teria salvado o Brasil da TL, aponto que o que aconteceu foi exatamente o contrário. A RCC impediu que a TL desaparecesse, e é diretamente responsável pela sua onipresença na formação sacerdotal. A TL, por falta absoluta, total e completa de resposta ao anseio por Deus do povo, estava esvaziando as igrejas e os seminários. As pessoas iam à Igreja em busca de Deus e encontravam um assistente social de alba & estola falando besteiras esquerdóides. Qdo a RCC apareceu, o trato mais comum dos padres TL com os RCCistas foi dar-lhes o direito de enfiar seus cultos protestantes na liturgia, desde que trabalhassem nas "pastorais" TL. 

Com isso, a devastação da liturgia efetuada pela TL se tornou ainda pior. O que se dizia que viria, antes da RCC aparecer, seria - falo de boatos, mas que mostram o espírito do tempo - algo que se chamaria "missa simplex", uma Missa que duraria dez minutos no máximo, reduzida a uma bênção com perdão dos pecados, uma leitura, consagração, per ipsum e bênção final. Era nesse sentido que parecia caminhar a reforma litúrgica, e a TL tbm trabalhava neste sentido. Na verdade, nas congregações religiosas TL as poucas vocações que entravam não queriam ser ordenadas, pq a Missa era considerada pura perda de tempo.

Mas com a RCC, enfiou-se um quadro de cantorias e coreografias absolutamente idiotizante ao redor daquele esqueleto de Missa, fazendo com que a liturgia TL-RCCista se afastasse ainda mais do ideal eclesial. Passou-se a "falar de jesus" (no minúsculo, mesmo, que não era de Nosso Senhor que falavam, mas dessas besteiras emocionalistas protestantes, em que cada um cria um "personal jesus" para uso próprio), e isso estancou uma pequeníssima parte da debandada de fiéis, mas com o altíssimo custo de atraí-los para outra coisa que não a Verdade que a Igreja tem por múnus ensinar. O resultado foi que isso deu à TL uma tremenda sobrevida, pq os discursos TL passaram a vir enquadrados em um culto protestante, que lhes dava uma aparência maior de legitimidade. A RCC, neste sentido, salvou a TL, ao ensinar-lhe o caminho das pedras de misturar um bestialógico de auto-ajuda com a pregação marxista pura a dura. Hoje é comuníssimo ainda ouvir homilias em que metade é auto-ajuda e metade é pregação esquerdista, e tudo adoçado (ou adocicado) com muita cantoria, dar-se-as-mãos, olha-no-olho e demais truques baratos de auditório típicos da RCC, que não deveriam jamais ter lugar na liturgia. 

Botar um carnaval de cantorias e coreografias em cima de uma base TL tem mais ou menos o efeito de dar um litro de água a quem está com muita fome: a pessoa bebe aquilo e fica com a barriga cheia por alguns minutos. A Igreja passou a ter uma alta rotatividade de pseudo-conversos, exatamente como ocorre com as seitas. O sujeito se confessa na Quaresma, faz a Páscoa, vai numa Missa, noutra, noutra, e antes mesmo de acabar o tempo pascal já cansou de bater palmas e sacudir o folheto - coisa que as crianças excepcionais do Instituto Pestalozzi devem adorar fazer semanalmente, mas que na Missa é de chorar - e deixa de cumprir o preceito da Missa dominical. Se der sorte aparece de novo na Quaresma seguinte. Se der azar, fica só indo tomar passe no centro espírita, onde dão passe igual na RCC sem danificar a audição com tanto barulho. É trágico.

E pior foi o que aconteceu ao penetrar nos seminários. Aí, então, a coisa ficou mais feia ainda, e pelas mesmas razões. Os padres formados a partir desse tempo não aprenderam a Sã Doutrina. Ao contrário: a Fé simples mas vivida que eles tivessem ao entrar inocentes no seminário é cuidadosamente desmontada pelos mestres TL que a RCC salvou, e o truque sujo e barato de fazer da Igreja e de sua liturgia uma espécie de centro de auto-ajuda garantiu que não perdessem muita "freguesia". Criou-se um sucedâneo de formação, um sucedâneo de espiritualidade, que impediu a derrocada final da TL e dificulta tremendamente o reinício - que a Santa Sé briga pra fazer - da formação clássica de base escolástica.

Se não fosse a RCC, a TL teria acabado de acabar ainda nos anos 80, no máximo nos anos 90. Devido à sobrevida dada pela RCC, contudo, são raríssimos os seminários brasileiros em que não ocorra o que descrevi acima na formação dos seminaristas. Aliás, outro dia escrevi algo rapidamente sobre isso aqui e vários ex-seminaristas me escreveram em PVT dizendo que saíram do seminário para não perder a Fé, ou mesmo que a perderam no seminário - devido à "desconstrução" e "desmitificação" sistemática operada pela TL que a RCC manteve viva - e só foram recuperá-la anos depois. É uma tragédia pela qual cada um de nós vai ter que prestar contas a Deus. O mínimo que podemos fazer é rezar muito. E ai das almas dos Bispos!

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