sábado, 25 de maio de 2019

Em si mesmo

Supra consciente de meu ser. A solidão, bem vinda neste caso, me fez ficar diante de elementos que, embora em mim, eu ignorava completamente. Pude contemplar uma paisagem até então pouco explorada. 

Ficar sozinho sem, no entanto, sentir-se sozinho é uma oportunidade e tanto de aprendizado. Eu percebi a minha inquietude, que ainda precisa ser acalmada pois ao invés de aproveitar o silêncio, a calma, ficava em busca de algo externo, algo que pudesse me alegrar sendo que a causa da minha alegria naquele momento estava justamente em poder aproveitar meu tempo sozinho. 

Percebi o quanto eu tenho medo do silêncio, do quanto me escondia da fera que habita aquele lugar. A fera se libertou, e a ninguém ela machucou. Embora tenha saído revolta de suas correntes ela logo se acalmou. A fera não é minha inimiga, a fera sou eu, que me obrigava a ficar preso nos recessos de minha consciência. A fera é formada pelos desejos reprimidos, pela luxúria ensandecida que covardemente busquei limitar, fazendo com que aumentasse nela os desejos mais torpes, mais primitivos e animalescos da alma humana fétida de pecado. A fera se acalmou tão logo viu-se livre, tão logo percebeu não ser um monstro, mas apenas barulhar como monstro. 

Me vi em boa companhia, sozinho, vendo séries e comendo besteiras industrializadas. Eu gostei da companhia. Não tive medo do escuro, não tive medo do que poderia surgir dele. Não tive medo de lembranças, nem de pessoas. Apenas fiquei ali, sorrindo, cantando, sendo eu mesmo para mim. Meu único desejo real era o da verdade, o de conhecer, e por isso mesmo sozinho eu me dediquei a ouvir, as aulas e a meu próprio coração. 

Um merecido descanso, para um corpo que há dias pedia pela diminuição da fadiga que é cansar-se continuamente sem intervalo, física e mentalmente. Um merecido sono, que veio naturalmente, na calmaria de uma alma em paz, perfeitamente confortável na tranquilidade de um ser que tomou consciência de si mesmo, e que sabendo disso, compreende a maravilhosa dádiva de estar vivo. 

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