quinta-feira, 16 de maio de 2019

Do conhecer-se

"Quem luta com monstros deve velar, para que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E, se tu olhares, durante muito tempo para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti." 

(Nietzsche)

O conhecer-se é fascinante. Alguns dias atrás eu me queixava da incapacidade das pessoas de ficarem em silêncio contemplativo por qualquer instante que seja, e que isso de grande perda para todos, afinal tendemos a nos encher de máscaras e máscaras e, quando percebemos, já não somos mais nada além de um amontoado de coisas que não nos pertencem e que apenas nos pesam. 

Refletia, naquela ocasião, que o medo do silêncio é sinal do medo daquilo que se deseja verdadeiramente, é medo daquilo que há no profundo de nossas almas e que clama por ser preenchido. 

Esse âmago é o que há de mais íntimo na alma humana, e se esconde até mesmo do seu eu, caso queria fugir de seus gritos obsequiosos no barulho do mundo. Por isso os signatários da religião de nossos dias são tão adeptos da gritaria, das músicas altas e do fogo. Na igreja, onde nosso coração se abre, ele se põe a gritar, mas muitos se recusam a ouvir o próprio coração, preferindo gritar mais alto do que ele, para não ouvir aquilo que, de alguma forma, sabe-se querer mas finge não saber. 

Os homens fogem de si mesmos. Tentam tornar-se outra coisa. Escondem-se por detrás das fotos das redes sociais, das risadas, dos gritos, das bebidas. Escondem atrás do raciocínio psicótico de que, se todos acreditarem que estão bem, vão se convencer de que estão mesmo, quando na verdade não estão, quando na verdade ignoram as ânsias mais latentes de sua alma reprimida. Fecham-se então nessa auto impregnação paranoica que, não raras vezes, conduz à loucura. 

O homem precisa contemplar o seu abismo interior, entender o que se esconde naquela escuridão. Precisa entender o que há ali que causa tanto medo. Talvez as suas feras interiores não sejam realmente ferozes, apenas estão agitadas por estarem presas. Talvez suas feras só queiram libertarem-se da prisão horrenda que seu ser tornou-se, jogando nelas tudo quanto havia no exterior e ignorando que precisam ser alimentadas. O abismo que há no interior do homem, que o assusta desde o primeiro pensamento, é a vontade que precisa ser realizada, é a completude que precisa ser alcançada e não mascarada com palavras e fogos artificiais. 

O conhecer-se é fascinante. Também demorado, doloroso, confuso, mas sempre fascinante. O conhecer-se liberta as feras, faz contemplar e entender o abismo e, principalmente, faz entender que a voz que suspira no silêncio é a voz do próprio coração, desejoso de ser compreendido.

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