terça-feira, 8 de outubro de 2019

Chuva e fogo

Meu ardente coração quer dar-se sem cessar, 
ele precisa demonstrar sua ternura. 
Ah, quem há de compreender meu amor, 
que coração quererá me compreender? 
Mas em vão procuro essa resposta...

Minha verdade é, aos olhos dos outros, algo feio e que merece ser escondido. Minha verdade assusta, e é sempre assim, quando as pessoas enxergam quem sou e como sou, acabam por se afastar. Meu ardente coração é um problema justamente por arder demais, por consumir-se em amor. Ao meu coração resta as cinzas de minhas próprias chamas.

É como um ciclo vicioso ao qual estou eternamente preso. Eu conheço alguém, e a beleza deste alguém me seduz. É impossível resistir e, quando me dou conta, já estou parado na ante-sala de meu próprio coração, esperando o momento certo de revelar o que se esconde por trás das grandes e pesadas portas da verdade.

Meu julgamento é sempre incorreto. Deveria manter minha verdade longe dos olhos estranhos dos outros, que não podem compreender minha essência. Talvez seja demasiado desinteressante, talvez seja assustador...  Que há em mim que faz com que todos queiram me deixar? Será que minha imagem interior é assim tão parecida com um demônio?

Quando as portas se abrem a imagem que ali contemplam os choca, e todos correm assustados, todos se afastam. A solidão é minha única companheira inseparável.

E eu sempre mostro-me a eles com alegria, na esperança de que possam se encantar com meu ser. Meu ser, no entanto, é para eles motivo de desprezo. Me olham depois com indiferença, e eu me escondo pela vergonha de ser quem sou.

O que me resta além de lamentar e de almejar pelo dia em que possa me mostrar verdadeiramente? Talvez devesse recolher meu ser tão fundo no meu coração que ninguém nunca mais possa ver... Talvez o mundo não esteja preparado para ver o que há em mim. Talvez eu seja o único a poder ver quem sou e como sou sem medo, sem fugir, já que não posso fugir de mim mesmo. Parece-me que ninguém quer ver, que ninguém poderá compreender.

E a chuva continua a cair, madrugada a dentro e, como ela, também eu continuo a me derramar em vão. Meu coração continua a queimar em vão, consumindo meu ser, pouco a pouco, até que não me restem mais do que apenas as cinzas, levadas a terra por essa mesma água que cai do céu...

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