terça-feira, 29 de outubro de 2019

Da nova Evangelização

Tanto esforço. Tantas discussões intermináveis, debates efusivos, coléricos. Mas será que isso é feito com o olhar fixo no objetivo que se quer alcançar? Ou será que, confusos quanto ao seu objetivo apenas balbuciam palavras ao vento sem nenhum sentido último, senão que suas falas são apenas expressões imediatas de suas impressões subjetivas e emocionais, sem nenhum contentamento real da razão que deveria mover essas ações? 

Me vejo em meio a um terremoto. Reuniões, conselhos, ações, eventos, reflexões. Tudo e prol de ações que possam favorecer uma evangelização. O objetivo inicial parece claro a todos: conquistar o coração dos jovens para o seio da Santa Igreja onde poderá receber as graças dos méritos de nosso piedoso Jesus Cristo e de sua clementíssima Mãe como nossa intercessora. Trazer os homens para Cristo: eis o nosso ideal!

Mas será que nossas ações de fato refletem os objetivos que traçamos? 

Como podemos conquistar as pessoas para Cristo? Sendo outro Cristo na vida delas, como bem nos ensina São Francisco. De que forma fazemos isso? Mostrando aqueles como Jesus viveu, como pregava, o que dizia, a quem ajudava, que missões nos deu. Mostrar Jesus, tal qual se apresentou aos apóstolos. 

Mas existem várias facetas de um mesmo Cristo. Tem o Cristo obediente a sua Santíssima Mãe nas Bodas de Caná. O Cristo irritado expulsando os vendilhões no templo. O jovem Cristo explicando as escrituras aos homens da Lei. E todos são um mesmo e único Cristo que, não podemos esquecer, é um só com o Pai e o Espírito. 

O Cristo que mostramos aos outros é um Cristo que mais se assemelha a alguém recém saído de Woodstock, Um Cristo que tudo aceita, tudo ama. Um Cristo que não se importa de ser louvado com músicas feitas por pessoas que notoriamente abandonaram sua fé e imprimem hoje apenas um arremedo de cristianismo seletivo, donde pegam apenas aquilo que os convém. Existe um abismo entre um Te Deum ou um Panis Angelicus e uma repetição histérica da mesma frase, em acordes ascendentes que visam puramente fazer as pessoas chorarem. Patético substituir a mensagem profundamente evangélica pela linguagem evidentemente protestante dessas bandas atuais.

Amizade é querer as mesmas coisas e rejeitar as mesmas coisas, disse Sto. Tomás. Como amar aqueles que tentam destruir a Igreja de dentro, transformando-a numa seita protestante? 

Pois bem, realidade vivida: faz-se um encontro de três dias, cantam-se as músicas mais carismáticas, não importa se são protestantes ou espíritas, move-se mais de cem pessoas para executar o tal evento para, no final das contas, não haver nem sequer três linhas do Catecismo nele. Adento: o Catecismo é o livro do ensinamento cristão por excelência. Ele lança luz sobre as Escrituras e é por elas alimentado. Como pretendemos ensinar a Cristo, se a mensagem de Cristo como nos foi deixadas pelos padres da Igreja foi substituída por uma mensagem cheia de jargões protestantizados como "Deus ama você o tempo todo" ou "Deus jamais condenaria ninguém". A Igreja que Cristo Jesus deixou é porto seguro para a salvação das almas, mas também podem encontrar a salvação em outra religiões, ou em nenhuma, valendo-se apenas da retidão do coração de cada um. Tempo perdido. Os jovens poderiam sair desse fim de semana profundamento arraigados na fé, conhecendo doutrinas que os ajudarão a superar cada dificuldade da vida ao confiar seu sofrimento ao Sagrado Coração de Jesus, que prometeu estar conosco até os fins dos dias. 

Falta algo mais palpável. Um ensinamento real, algo de fato oferecesse ao jovem uma segurança de que o caminho da Igreja é o caminho da Verdade e da Vida, mas parece que essa é a última das preocupações. Fora da Igreja não há salvação? Dogma fundamentalista, ninguém mais acredita nisso. Todas as religiões são boas e salvam. Mas se assim o fosse, Cristo teria fundado tantas outras, de acordo com as diferentes concepções de religião da época. Não o fez, desejou a unidade, simbolo da unidade dele com seu Pai e o Espirito.

Alguns defendem que essa doutrina, faltante no primeiro encontro, seria complementada depois. Mentira. O depois é apenas mais do mesmo. Palavras repetidas, chavões gastos que, embora sejam belos adágios, não são mais do palavras que já perderam seu valor. São vazias como poeira ao vento. Primeiramente, o coração verdadeiramente reto encontraria a verdade onde ela foi deixada: no seio da Santa Igreja. E, por fim, ninguém encontra Jesus de verdade. Encontra um simulacro de religião que, em ultima análise, não imprime nenhuma ação concreta para a conversão.

Com essas afirmações jogamos no lixo séculos de tradições e ensinamentos seguros sobre a salvação das almas. Durante séculos a preocupação de todo foi "Convertei-vos e crede no Evangelho." mas agora parece-me que a máxima é "Crede em algo e será salvo." É perceptível a diferença?

A Igreja sempre pregou o caminho da salvação: o amor em Cristo Jesus. Hoje a igreja aceita o amor, seja ele qual for, como salvação. São Paulo disse "Tudo me é válido, mas nem tudo me convém. O discurso agora é outro: Se tudo me é válido, tudo me convém. 

Como pretendemos trazer o jovem para Cristo se o Cristo que apresentamos a eles é um Cristo sem regras, um Cristo sem Igreja? O encontro é católico, mas poderia muito bem servir numa igreja protestante com algumas pouquíssimas adaptações. 

Nós esquecemos o essencial. Esquecemos que somos, de certo modo, participantes do múnus sacerdotal de Cristo e temos o dever profético de corrigir os erros feitos em noma do Senhor. O essencial é, como diz a música do Pe. Zezinho: "Amar como Jesus amou, sonhar como Jesus, pensar como Jesus pensou, viver o que Jesus viveu." É tornar-nos espelhos de Cristo, e não reduzir todos os seus feitos numa meia dúzia de jargões emotivos que, na hora despertam uma poderosa carga emocional, mas que logo se apaga como uma pequena brasa em meio a tempestade do mundo.

Mas falar de Jesus não é importante, falar sobre meu eu é importante, apenas coloco o nome de Jesus porque o dele tem mais impacto. No fim das contas tudo isso é um grandioso e elaborado culto ao próprio homem. Fala-se do homem como se ele fosse o centro. O nome Cristo que é mencionado é apenas um apelido para o próprio homem. O que Cristo disse, o que ele fez e ensinou, a Igreja que deixou, nada disso é importante.

As pessoas vêm o Cristo real como um impositor de regras, e sua Igreja como uma supervisora. Não enxergam Cristo como Pai e nem a Igreja como a distribuidora das graças que ela é. Não conhecem Cristo de verdade, nem a Igreja, e não pretendem conhecer. Conhecer pra quê? Já tenho minhas convicções, não preciso aprender com a Mãe e Mestra da verdade. No fim só eu e o que acho importa, uso Cristo como argumento de autoridade pra validar o que sinto. 

Precisamos construir nossa casa sobre a rocha. É preciso que eu suma e Cristo apareça. Falar das verdade da Fé: O céu existe, e o inferno também. O pecado nos afasta de Deus, e o pecado ainda é pecado mesmo quanto todos pensam que não mais o é. A condenação exite, mas a graça que superabunda o pecado também. Não devemos desanimar, devemos nos munir das armas da tradição para então pregar com aquele mesmo vigor apostólico dos nossos pais na fé. Com testemunho de vida e palavras que refletem a vontade do Espírito. Com docilidade ao ensinamento do Magistério, respeito solene a Tradição. 

Voltemos ao passado. Aprendamos com nosso pais na fé a como seguir a Cristo, a como cantar os louvores ao Senhor. Esqueçamos essa mania de extravasamento vocal, de entrave afetivo, que anuvia a visão da verdade revelada no Sagrado Magistério. Caminhemos por uma restauração da verdade, da Tradição, da modéstia. Do conhecer a Igreja a qual servimos pois, a exemplo de Santo Agostinho: "Não creria no Evangelho se a isso não me levasse a autoridade da Igreja de Roma."

Me apego a promessa de Nosso Senhor de que, no fim, eles estará conosco até o fim dos dias. 

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