quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Do Medo


Eu quero fugir. Fugir das pessoas que me rodeiam, fugir do mundo que me aprisiona, fugir dessa existência patética e sufocante que sou obrigado a manter a cada dia contra minha vontade. Eu quero fugir, me esconder num lugar tão distante e profundo que não consiga ser achado por ninguém, nunca mais...

Eu tenho medo. Eu olho ao meu redor e vejo tantas pessoas, e elas fazem tanto barulho. Isso me assusta, me congela e eu fico petrificado contemplando aquele inferno sem nenhuma reação. Algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto, caindo pesadamente sobre meu colo, mas, na maior parte das vezes eu sinto apenas um terrível vazio, uma completa incapacidade de ser feliz e de sorrir como os outros, com a coisas simples da vida, como isso fizesse todo o sentido da existência surgir e tornar-se tangível. 

Esse sentido existe? E ele está mesmo em todas as coisas comuns da vida? Eu não o vejo. Eu só vejo medo. Só vejo as máscaras que as pessoas usam para ignorarem o fato de que elas também não fazem ideia de por que existem ou para quê estão aqui. Essa constatação gera em todos um medo terrível da realidade que os oprime, que os obriga a encontrar essa razão de ser. Como não conseguem encontrá-la, mascaram a verdade com prazeres e vícios, como se estes oferecessem todo o fim ao qual procuram. 

Essas coisas não podem me alimentar senão que muito superficialmente. Não vejo mais do que decadência. Não vejo mais do que medo. E eu, por não conseguir me enganar com isso, fico sozinho com este meu medo que, em muitos momentos, é minha única companhia. 

Mas enquanto busco a minha verdade eu sou obrigado a conviver com as pessoas ao meu redor, e parece-me que nenhuma delas pode me ajudar nessa jornada. E quanto mais percebo que em nada elas contribuem, senão que apenas me distraem de maneira imperfeita e superficial, mais eu desejo me afastar de tudo e de todos. 

Acontece que tudo o que há no mundo é barulho. Um barulho terrível que me ensurdece, que atenta contra meu coração palpitante e que me enche de terror, como meu sangue que circula por todo meu corpo, levando para todos os meus órgãos e extremidades esse pavor que me enche até transbordar em lágrimas pelo meu rosto. 

Fugir é a melhor escolha. A distância é a única forma segura de encontrar a razão da existência sem ser sufocado pelo barulho do mundo. Devo me distanciar desse mundo para então, dentro de mim, encontrar algum motivo ou razão para continuar existindo nesse mesmo mundo que tanto me assusta. 

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