quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Um lugar vazio

Uma cadeira continua sendo uma cadeira mesmo quando ninguém está sentado nela. No meu quarto há uma grande cadeira, quase sempre vazia pois prefiro me sentar na cama. E eu fico observando essa cadeira, pensando em quem poderia sentar-se ali comigo e me fazer verdadeira companhia, quem poderia me tirar desse sépia antigo e solitário. 

Mas uma cadeira não é uma casa, e uma casa não é um lar se não há ninguém nos esperando, é o que diz a música não é mesmo? A companhia está na presença ali ocupada, é ela que transforma a cadeira numa companhia e a casa num lar. Mas essa não é a cadeira da música, e nem a cadeira de Van Gogh, embora pareça, mas é a minha cadeira, a cadeira de meu quarto, vazia como a de Van Gogh. 

E eu percebo ela vazia nas diversas horas do dia. Quando acordo, com a luz do sol entrando com força pela janela. Durante a tarde, anuviada pelas cortinas grossas que uso para filtrar a incômoda luminosidade em excesso que incomoda minha visão. No fim do dia, quando uma sombra é projetada no chão e o vazio da cadeira fica ainda maior e por fim, na noite escura, quando me dou conta que a cadeira passou o dia vazia. 

Não preciso dizer o que isso significa. Alguém deveria estar ali, mas não está, e tudo que há aqui sou eu, observando essa cadeira, que mostra o quanto essa casa é vazia, o quanto essa casa ainda carece de muito para ser um lar. 

Não há verdadeira companhia. Nem sequer uma companhia medíocre, incapaz de preencher o vazio mas ao menos capaz de ocupar a cadeira. Não há ninguém, e ela continua vazia.

Talvez seja um exagero meu, talvez seja apenas uma cadeira e a solidão do meu coração encontrando metáforas, mas talvez não, talvez seja mesmo um vazio que clama pela mudança, uma casa que clama por se tornar um lar. Piegas? Com certeza. Verdadeiro? Igualmente. 

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