sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Lástima

Este calor do cerrado em que vivo é uma condenação cruel... O desânimo é inevitável ao sentir a pele úmida de suor e as mucosas secas pois o ar parece-se com o de um deserto. O corpo fica mole, a fome ataca mas não conseguimos comer pois é um incômodo para o paladar. Logo sentimos a cabeça doer, juntamente com a fadiga do resto do corpo.

Alguns apelam ao ventilador, companheiro agradável das noites, mas que na verdade não faz mais do que lançar um jato de ar quente em nossa direção, nos dando a muito vaga impressão de frescor. Os mais ricos usam o ar condicionado, deliciosamente frio e infelizmente inacessível a maioria de nós. 

Dormir é um suplício. O calor do corpo faz o suor deixar uma marca na cama. Nos reviramos de um lado para outro na esperança de que alguma hora o cansaço de sobreponha ao incômodo. Resultado: não conseguimos descansar e isso influencia diretamente nosso dia, cada vez mais cansado, mais pesado.

O mormaço só piora quando o cerrado começa a pegar fogo, literalmente! As queimadas nessa época são inevitáveis e poluem o ar deixando-o pesado e ainda mais seco, uma verdadeira tortura para narizes e pulmões que não conseguem filtrar a fuligem que nos cerca e que nos deixa cada vez mais asmáticos. 

Há quem veja beleza no cerrado, nossa savana brasileira. Eu particularmente, como bom pessimista que sou, só vejo o incômodo constante que é viver num lugar onde o calor sufoca até quase a morte. Não vejo beleza, apenas mato seco e árvores retorcidas, nada de muito deslumbrante. Talvez alguma mata ciliar se salve mas, no geral, não é nada realmente aprazível aos olhos. 

As plantas secam, o sol é uma brasa lancinante que se lança sobre o chão com uma violência dantesca, ele é como um raio causticante sobre uma pedra que beira derreter-se como num vulcão. A sensação de quem sai ao ar livre é de estar sendo queimado vivo na maior churrasqueira do mundo. 

E esse é nosso eterno suplício: viver num lugar cujo ar é um ataque declarado ao nosso sistema respiratório, cuja sensação térmica e a de estar eternamente nadando no sovaco de um pedreiro, algo próximo do inferno ou da fogueira medieval... Que lástima!

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