Ainda quero viver o sol, que entra alegremente pelas janelas da minha vida, recém abertas. Ainda quero sorrir, sem me preocupar... Mas onde brilha o sol senão que nos agrestes escarpados do coração?
A liberdade do dia é a mesma quando fecho os olhos e ainda penso nele? A liberdade que quero manter é a de ainda pensar nele nos meus momentos mais íntimos?
E então, o que querer? O que desejar no íntimo de minh'alma? O que pode ser a alegria que busco no âmago de meu ser? O que é aquela coisa que tenho buscado todo esse tempo, cuja ausência me causa noites em claro?
Como não me apaixonar pela gentileza? Como não me apaixonar pela palavra timidamente dirigida pensada em meu bem estar? Como não me apaixonar pela vez em que dois corações se tocaram num abraço apertado que, num átimo de segundo, fez o meu mundo parar?
A incerteza de uma noite sem resposta. Um passado que ainda não foi sepultado. Um futuro que mais parece um quadro borrado de tinta, com as cores a escorrer sem precisão, sem razão, nada mais do que uma grande confusão. Rimas idiotas. Um poeta fracassado. Frases lançadas sem propósito algum além de servirem como catarse. Insegurança. Negação. Aceitação. Negação. Aceitação de novo. Insegurança. Um ciclo sem fim, mas não como a beleza selvagem, um ciclo sem fim onde os animais se transformam em bestas, onde as bestas se transforam em humanos e os humanos se transformam em deuses. Palavras que ganham vida própria e, não tendo sentido nem mesmo aquele que as escreveu, servem como um jarro onde se derrama o vinho que não foi bebido, aquele que não foi aproveitado na festa. Mas parece que até mesmo o jarro quebrou, e o vinho derramou-se no chão. Não pode mais ser sorvido. É, tudo isso é a incerteza de uma noite sem resposta.
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Ondas de excitação me vêm sem avisar, chegam de súbito fazendo subir, de meu ventre até o meu peito, uma sensação de calor, uma estupefação. Minha respiração fica forçada e, não raramente, eu tenho sobressaltos, esquecendo até mesmo de como se respira, sugando novamente com força o ar para pulmões que estão ocupados demais para respirar. Uma imagem aparece para mim, uma pessoa, e claramente ela se coloca a minha frente, em situações que aconteceram e que me recordo com um misto de saudade e raiva, outras situações nunca aconteceram, e são os recessos de pensamentos que tenho em momentos de carência. E assim a coisa se vai, rápida como um inspirar e desaparecendo como um expirar. A sensação some, o calor se dissipa e a minha respiração volta ao asmático ritmo de sempre. Parece que nada aconteceu, exceto pela sombra cor de rosa que ainda paira, misticamente, nas bordas de um lago negro.
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Me sinto invisível, de duas maneiras diferentes. A primeira delas é que parece que ninguém me vê, e isso é muito bom. Passei boa parte do domingo no meu quarto, sentindo o ar quente do ventilador tentando aliviar um pouco a brincadeira do demônio que brinca com o termostato da região. Gosto de ficar sozinho, ouvindo trilhas sonoras de animes e lendo livros do cenário underground, ou quase isso. De outra maneira é aquela invisibilidade que tenho em relação aqueles que gostaria de chamar a atenção. A antiga ironia de uma paixão não correspondida? Nada tão esmerado assim, apenas um desequilíbrio de uma amizade de mão única, apenas a velha lei do mundo dos relacionamentos de que só damos valor a quem não nos dá valor, algo de uma imaturidade ímpar que se revela numa veia masoquista e demente. Amor próprio que é bom, nada.
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E eu cometi o mesmo erro mais uma vez. Me iludi. Achava, e algum lugar com base em alguma lógica paradoxal que isso daria certo, achei que me apaixonando por quem está todos os dias ao meu lado, por quem me abraça e que me faz sentir que aquele abraço é o melhor lugar do mundo. E de fato é o melhor lugar, mas não é o meu lugar. E essa é a diferença. Mas sabe, eu me sinto triste de novo, não com aquela tristeza desesperada, que me fazia chorar aos prantos, que me fazia me lançar ao chão, desesperar-me em lâminas. É uma tristeza conformada, uma tristeza que faz escorrer apenas uma lágrima pela face. Achei que amasse um amigo ele seria receptivo a um amor que apenas evoluiria. Mas o meu amor não é amado. E provavelmente algo se quebrou, algo se desfez e não pode ser consertado. Uma vez mais os meus sentimentos me pregaram uma peça, e saíram sorridentes, satisfeitos. Parece que me enganei, sobre isso e tudo o mais.
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Sabe, eu nunca me senti um sujeito muito ambicioso. Eu nunca desejei muita coisa. Pra ser sincero eu até me considero bem medíocre em aceitar qualquer situação, mesmo reclamando, sem fazer nada para mudar. Eu nunca tive grandes sonhos, como muitos ao meu redor que se enxergam no futuro como grandes empresários, advogados, nomes de influência. Eu nunca desejei nada muito grande, mas a única coisa que desejei verdadeiramente me foi negada, e da maneira mais cruel.
Vejo que muitos simplesmente não conseguem o que querem pela distância entre a vida em que vivem e a que desejam, como de um lado a outro do oceano profundo. No meu caso eu sempre estive frente a frente com aquilo que queria, sempre segurando sua mão, preso em seu abraço apertado. Sempre estive cara a cara com o meu maior desejo, sem nunca poder possuí-lo. É uma forma bem cruel de negar o desejo.
Por isso eu sou o retrato de um fracasso. Alguns contestam com as minhas qualidades acadêmicas. Pífias, que a nenhum lugar me levaram. Sou um fracassado com boas referências. Um fracassado, no sentido puro e genuíno do termo.
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