segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Ressaca

Tenho estado um pouco distante da letras nos últimos dias. Já faz algumas semanas, na verdade, que a frequência com que escrevo vem diminuindo. Já faz algumas semanas, inclusive, que tenho feito algumas mudanças na minha vida e, como sempre, essas são acompanhadas de consequências. Mudar é absolutamente necessário, ainda mais quando já não estamos mais satisfeitos com quem somos ou com o que fazemos. 

Isso porque as coisas cansam, ou nos cansamos delas, e por isso precisamos fazer a roda da vida girar uma vez mais. As coisas que me agradavam antes hoje me são de profundo incômodo. Percebi, e isso foi o mais importante, que vivia num grande limbo entre a solidão e a agitação do mundo. A solidão, que pode ser dolorosa mas ao mesmo tempo é capaz de profundos ensinamentos, me era apenas uma condenação injusta. Por outro lado, a confusão do mundo que também é necessária pois ninguém vive só, também me parecia uma condenação por motivos que já descrevi tantas e tantas vezes. 

Esse limbo, pois a internet nos oferece uma sensação de companhia constante mas sem que essa companhia seja real. Isso prejudica ambas a experiências, e assim me sentia, como se ambos os meus aspectos, aquele da solidão e aquele que se relaciona com o outro, se encontravam limitados por essa experiência incompleta. 

Quando percebi, não com poucas dificuldades, que essa era a causa, eu não pude esperar duas vezes antes de começar a me afastar disso. Tornou-se questão de primeira importância, imaginar que posso me prejudicar por estar vivendo num mundo virtual que, no entanto, não contribui nem mesmo para me ajudar a tornar a solidão em solitude como para ser alguém melhor na agitação do mundo, se tornou um martírio. Tão logo percebi isso eu comecei a sentir total desgosto pela vida online. 

Tenho, desde então, buscado o silêncio que já não é mais uma condenação, senão que é um refúgio para o aperfeiçoamento do talento. O silêncio me ajudou a descansar, o corpo e a mente. É nele que tenho conseguido estudar, ler e ouvir musica com uma profundidade que até então não tinha experimentado. O medo que tinha de estar só não me permitia notar que a vida virtual não era mais do que uma ilusão de funcionalidade, e que eu já estava só há muito tempo, e que isso não era um problema. Se já estava só e nem por isso havia morrido, por qual razão morreria agora que me dei conta? E se não morreria por isso é porque estar só não é lá tão mortal quanto pensava ser. 

É com certa ojeriza que observo agora como essa ilusão pode ser prejudicial aos outros. Observo com dor como as pessoas agem tentando usar os amigos online pra suprir um vazio real, que elas sentem no peito e que não pode ser preenchido com likes ou algoritmos. Não é uma bela visão, e por isso mesmo tenho preferido olhar o mundo com os olhos de verdade, sem as lentes, ou não olhar nada além de meu próprio quarto. O meio termo me enoja. 

Essa atitude gerou uma série de outras mudanças que, no entanto, ainda não compreendo a ponto de conseguir descrevê-las, mas o fato é que extinto um dos principais fatores de angústia, falar sobre a angústia tornou-se algo desnecessário, aliás, algo que já não me é tão caro assim. Claro que isso não impede que outras angustias se sigam de outros lugares, mas estancado um sangramento não faz sentido não limpar o sangue que dele escorreu. 

Talvez seja uma pausa criativa, uma ressaca ou um bloqueio, que se mostra num silêncio, já não do mundo mas meu para o mundo, e que logo mais deve explodir novamente numa profusão de palavras, mas até lá, tento falar sobre o que sinto, seja um deserto no sentido árido e pessimista do termo, ou um mar calmo e silencioso que não necessita fazer barulho para mostrar-se belo e senhor do mundo. 

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