sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Resposta imediata

A confusão é um estado quase permanente do homem. Aristóteles disse que todo conhecimento começa com o espanto, aquele estado de estupefação que faz o homem conhecer o objeto, o fenômeno que se apresenta e elaborar aquilo com a realidade de modo racional ou apenas apreender intuitivamente esse mesmo objeto. Não sei se isso está certo, com certeza meu professor (e Aristóteles) discordaria, mas eu não acho também que ele estava falando disso, só usei como ponto pra começar a minha reflexão. 

Particularmente um bipolar como eu não gosta de se sentir desorientado, justamente pelo fato de que a confusão é um estado constante que me causa muitos problemas, a maioria deles sem solução durante a própria confusão. Por outro lado os meus estudos me habituaram a um estado de dúvida e, consequentemente, confusão constante, ainda que sejam coisas completamente diferentes. 

De qualquer forma, me sinto muito desconfortável em não saber o que fazer, em não conseguir me distanciar o suficiente pra ver a situação de fora, enxergar com clareza e aí sim tomar uma decisão coerente. Como na maioria das vezes eu sei que isso é quase impossível de se fazer eu tento sempre ignorar os problemas e deixar que eles se resolvam sozinhos, afinal se me preocupar ou não no fim das contas é exatamente isso que acontece, não tendo eu poder algum pra mudar isso. 

Acontece que algumas vezes ainda fico a sensação de que preciso fazer algo, mesmo que algo continue me dizendo, e com toda razão, que pensar em problemas é uma das coisas mais inúteis do mundo, pelo motivo que acabei de dizer. Então essa é a dicotomia, o medo de não fazer alguma coisa e nada mudar ou de fazer e, por não ter poder sobre a situação, acabar por piorar tudo. 

É um impasse interno que se revela com uma ansiedade leve, se aproximando cada vez mais até me sufocar. É bom que tenha conseguido suprimir boa parte dessa ansiedade, ficando menos suscetível a ela, mas não posso dizer que consegui fazer o mesmo com os meus pensamentos. Mesmo sem ter o poder de causar grandes estragos ou grandes desestabilizações, eles ainda são constantes e, principalmente nos últimos dias, têm me incomodado justamente por ficar constantemente pensando em algo que não posso mudar.

Não sei bem se o que se passa comigo agora é mais uma daquelas milhares de paixonites que já relatei aqui e que sempre se revelam como uma resposta à carência, especialmente em épocas de relativa tranquilidade. Por outro lado também penso que pode ser algo mais forte, não foi algo construído do nada, mas que evoluiu de uma amizade que cresceu por vários anos, é algo que já vem crescendo aos poucos, e eu já tinha percebido antes, embora nunca tenha dado muita importância, afinal sempre estava ocupado pensando nas grandes paixões, aquelas arrebatadoras demais para me deixara ver algo simples e mais tranquilo, fácil até, de se viver. 

Também não sei bem como dizer como me sinto. Não sei dizer o que ele sente, e não sei dizer o que eu sinto sobre como ele se sente. Tenho medo de ser só mais uma coisa da minha cabeça, o que não seria a primeira nem décima vez que acontece, ou algo real, e não sou capaz de adquirir distância o suficiente pra enxergar com mais clareza, só me restando esperar, pacientemente (como se fosse possível pra um ansioso) até que algo aconteça. A verdade é que se for algo real, os sentimentos que parecem se recíprocos, a curiosidade, o amor crescente, eu posso acabar perdendo isso por falta de atitude. Por outro lado se fizer alguma coisa, como investir ou explicar o que se passa, corro o risco de acabar estragando uma amizade, o que também não seria nenhuma novidade já que com frequência eu venho estragando as coisas. 

Escrevendo eu sinto que consigo clarificar um pouco mais as coisas. É como se olhasse um quadro de provas de uma investigação criminal. Mas aqui eu só consigo detectar que pra todos os efeitos o crime já aconteceu, isto é, eu vou perder de qualquer forma. O bom senso pessimista me diz que devo desistir, se vou perder de qualquer jeito que ao menos poupe o esforço de fazê-lo e me humilhar, posso ficar sentado e vendo tudo dar errado ao invés de correr atrás e ver tudo dar errado. Algo do senso comum sussurra que deveria tentar, ao menos pra não me arrepender de não ter tentado, mas o senso comum é algo que sempre tentei sufocar dentro de mim. 

Pensar num problema só é útil quando se é possível resolvê-lo. O máximo que posso fazer é expor as coisas de modo a entender que sim, minha investigação apenas prova que não tenho poder nenhum sobre a situação. Quanto a que atitude tomar creio que não possa decidir de antemão, senão que vou agir de modo irresponsável como resposta imediata alguma situação de gatilho, como uma crise de ciúmes, coisa típica de um bom bipolar.

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