sábado, 29 de maio de 2021

Do Enriquecer

Já havia dito que estou em processo de afastamento das minhas atividades mais complicadas para me concentrar numa possível recuperação, numa estabilização emocional do meu Transtorno de Personalidade Bipolar que, entre pressões e e crises tem me desgastado ao ponto de que já não consigo realizar as tarefas que antes me eram das mais simples. Claro que, para conseguir me acalmar um pouco, preciso de um divertimento que cumpra o requisitos necessários para alguém como eu, isto é, que corresponda as aspirações da minha alma. Não podendo ser simples demais, pobre, e não pode ser feio e, acima de tudo, precisa me ajudar a cultivar alguma virtude em mim.  

Tenho me dedicado com bastante afinco as séries e filmes nos últimos meses, na verdade já há alguns anos essas coisas, ao lado da música, representam o ponto alto do meu ser: são obras que me inspiram, de algum modo enriquecendo a minha experiência humana, me fazendo abrir para o mundo da possibilidade, tendo contato com experiências que jamais poderia ter por sozinho mas que, com o auxilio de tais obras eu me sinto um pouco mais próximo daquela humanidade que conhecia a Verdade e a Bondade por meio da Beleza. 

É assim quando posso horas e horas na frente da TV assistindo tantas obras que tenham esse caráter não só formativo mas também divertido. A doação dos médicos por aqueles que sofrem, sacrificando suas próprias vidas por desconhecidos, é belo ver como a bondade de se serve desses homens para vir ao mundo, principalmente um mundo em que a bondade já não aparece muito em nossas relações. Ver doutores e doutoras em The Good Doctor e Hospital Playlist se entregando, sorrindo quando algum paciente se recupera e se emocionando quando conhecem a história de uma família que passou por dificuldades, isso humaniza o ser por meio da bondade, da generosidade, da paciência, o ser que antes encontrava-se fechado nas próprias impressões mais imediatas. 

Os meus queridos BLs, me ensinando diversas formas de amar, de conhecer, de cuidar e de se conhecer a partir do contato com o outro. A grande maioria das pessoas enxerga apenas a superficialidade de relacionamentos de jovens bobos e confusos. Mas as coisas não são assim, elas mostram a complexidade dos sentimentos humanos, em relação as experiências mais diversas e contraditórias da vida: é o que se pensa de si mesmo que se confronta com um futuro incerto porém desejoso, o passado que oferece certa segurança e o amor que se mostra sempre como um polo magnético, que chega e domina como o Imperativo Categórico de um Mandamento Divino. Tem sido assim atualmente com FIsh Upon The Sky, e o complexo de inferioridade do personagem principal que se acredita indigno do amor do outro protagonista e que, justamente por isso, nega seu amor. Em Nitiman vemos o amor acontecendo por acaso, e depois alguém lutando para que esse mero acaso se torne algo mais forte e real. 

I Promised You The Moon lida com os sentimentos mais conflitantes que podem atingir um jovem apaixonado e inseguro de si e de seu futuro. É o ser e o que faz parte do ser, os sentimentos, as dores, os medos e as alegrias numa eterna tenção que não pode ser resolvida senão sem a ajuda de tal almejada criatura: a alma amada que, no amante, se purifica, isto é, perde aquilo que não lhe é essencial para perceber que o amor é o essencial, e não separado dele há a compreensão, a dedicação, o respeito, a comunicação. Não em separado, como o disse, mas como partes integrantes que não poderiam dele se desprender. O sorriso que desfaz a dor e o gelo de tantas noites frias, os sorrisos que são como pontos de luz em meio a escuridão total da mídia que nos apavora a cada nova manchete.  

Também nos oferecem contato com aquela beleza imediata, a que encanta os olhos e por isso se marca na alma. É a beleza dos homens e mulheres que, nos cativando, oferecem muito mais do que isso, nos arrastando ao verdadeiro após sermos cegados pelo brilho de sua beleza. Eu me encanto com sua beleza e, por causa dela, a beleza ainda tem em mim um apaziguador de todo o caos que cerca o resto. 

Essas histórias enriquecem a nossa alma, e nos oferecem meios de ação humana. Ao nos depararmos com uma situação em nosso cotidiano devemos buscar ali, naquele banco de dados, a experiência e a sabedoria para lidar com o que se apresenta, com aquela arcabouço que adquirimos com o contato de tantas experiências humanas possíveis: é o contato com o que poderia ser que nos faz entender aquilo que é agora. 

É, analogamente e mutatis mutandis, guardadas as devidas proporções, aquilo que os grandes mestres do passado fizeram, inspirado os grandes mestres de hoje. Assim foi com Shakespeare, Camões, Dante, que inspiram tantos outros que hoje contam histórias que enriquecem o ser: Miyazaki e seu espaço vazio repleto de significado, como um portão quem embora seja um espaço vazio, deixa a luz do sol entrar. Bergman e a intimidade da mente humana, Dostoievsky condensando tantos pensamentos numa obra máxima. Gerações diversas que, hoje, já encontram a possibilidade de se enriquecer com sua visões.

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