domingo, 16 de maio de 2021

Resenha: HIStory 4 - Close To You

Esse post contém SPOILERS, prossiga por sua conta e risco. Comentários desrespeitosos serão excluídos e denunciados. 

Não é de hoje que as pessoas são rápidas demais em julgar tudo aquilo que lhes pareça um pouco fora do seu mundinho, com essa temporada de HIStory não foi diferente: dividindo opiniões desde os primeiros episódios o arco Close To You foi cancelado e aclamado por parcelas opostas da comunidade BL, mas será que precisava de tanto?

A franquia HIStory, que conta com antologias ligadas por pequenos elementos, havia sido praticamente cancelada na última temporada, com os arcos Trapped e Make Our Days Count, após a saída de vários produtores e troca de nomes nas empresas responsáveis,  mas qual não foi a nossa surpresa quando anunciaram que ela ganharia uma continuação, HIStory 4 - Close To You pegou a onda da popularidade das temporadas anteriores e fez uma estreia até barulhenta, mas o impacto das críticas foi misto, tendendo ao negativo, e isso acabou ofuscando um pouco o brilho dessa temporada.

Esse arco com a história de Xiao Li Cheng (Charles Tu) que, para conquistar sua antiga amiga de infância Liu Mei Fang (Cindy Chi) decide fingir que gosta de séries BLs, já que ela é uma fujoshi de carteirinha e, como ele fazia bullying com ela na infância esse era o único jeito de ele conseguir se aproximar sem que ela o recusasse. Nessa empreitada ele começa a fingir que gosta de seu colega de quarto e parceiro no trabalho, o sério e cuidadoso Teng Mu Ren (Anson Chen). Eles trabalham numa empresa que organiza casamentos, e eles moram juntos com Ye Xing Si (An Jun Peng) que trabalha em outro departamento. Os três são grandes amigos e costumam fazer tudo juntos. O quadro muda um pouco quando aparece Fu Yong Jie (Lin Chia Wei) que é filho da madrasta de Xing Si e está mais do que determinado a conquistar o irmão de consideração para fazer com que ele volte pra casa dos pais e eles possam viver juntos como uma família.

A primeira coisa que não agradou muito os fãs foi a aura mais comédia da série. Ela traz um clima bem mais leve e despretensioso pra tudo e, em comparação com o plot geral das temporadas anteriores que exploraram temas bem delicados (abandono, traição, quadrilhas, morte) realmente pode parecer que essa temporada não se deu o respeito devido, mas eu discordo desse ponto de vista. Exatamente pela forma trágica que terminou Make Our Days Count é que precisávamos de uma história um pouco mais otimista, pra equilibrar e dar uma continuidade agradável, ainda que a proposta seja a de uma antologia, mesmo que pela primeira vez os arcos tenham se ligado de um modo nada discreto, o que eu também achei um ponto bem positivo. 

Li Cheng é super confiante e não pensa duas vezes em fingir que está interessado no amigo, ele tira fotos, se aproxima de modo íntimo em público e ainda mostra ciúmes, tudo isso faz com que Mei Fang abaixe a guarda um pouco mas, a essa altura, Li Cheng já esta realmente apaixonado e agora precisa lidar com o medo de perder a amizade e não deixar passar o sentimento forte que surgiu entre eles. Ele afora implicar com o outro, que por ser sério acaba se estressando e perdendo a paciência, mas não demora muito pro sorriso contagiante dele começar a quebrar um pouco o gelo do coração de Mu Ren, que também sente medo dos novos sentimentos e precisa lidar com essa descoberta. 

Eles dividem muito bem a tela com o outro casal. Xing Si é aplicado, sensível e inteligente, chegando a ficar doente de tanto se dedicar ao trabalho, não tendo tempo pra se relacionar, mesmo sendo seguro de sua sexualidade ele não busca ninguém para não decepcionar os pais, e decidiu morar com os amigos justamente para que os pais não tivessem contato com sua verdadeira personalidade. Isso fez com que seu "irmão" (que, lembrando, é só filho da madrasta dele) sentisse muito sua falta e, como no passado o carinho que um tinha pelo outro acabou se transmutando em amor, ele achou que a melhor abordagem para trazer o irmão de volta fosse justamente se tornar ele o seu namorado. Ele se lembra de como se sentiu de coração partido ao descobrir o antigo namorado dele e então parte pra cima. 

Claro, esse foi o ponto mais controverso da temporada. O pessoal achou estranha demais a temática de de Fu Yong Jie ser tão obcecado pelo outro, ao ponto de fazer uma chave secreta do apartamento e invadir a casa sempre que sentia vontade, atacar Mu Ren por ciúmes e, convencer o outro a irem numa viagem sozinhos e lá embebedá-lo para poder gravar um vídeo dos dois na cama e assim forçar a família a aceitar o relacionamento. A abordagem dele é absolutamente questionável, muito embora a intenção fosse boa e o seu amor genuíno. Até mesmo Xing Si se enfureceu com isso, e ele é um dos personagens mais pacientes e compreensivos que eu já vi. Mas as coisas aos poucos se encaixam e nem tudo tem a dimensão que fizeram parecer ter. 

Fu Yong Jie é confuso e não sabe expressar bem seus sentimentos, ele simplesmente diz e faz tudo o que pensa, sem filtros, e se deixa levar pelos seus sentimentos com facilidade, embora diga ser frio e calculista por conta da faculdade de medicina. Mas a verdade é que ele é só um rapaz jovem, verdadeiramente apaixonado, que sente falta do irmão e quer estar junto do homem que ama. Como eles na verdade não tem nenhum laço de sangue e nem o nome compartilham não há nada, além dos pais, que possa ficar entre eles. 

Isso me leva até a temática central da série que só pode ser vista sem o véu do julgamento dos haters: Ambos os casais mostram que os sentimentos podem crescer e, acompanhando o crescimento das próprias pessoas, fazer parte do amadurecimento de cada um. Li Cheng precisou encarar Mu Ren de modo sério, este precisou aceitar seus próprios sentimentos e vencer o medo que tinha de uma relação gay. Xing Si precisou confiar que as investidas do outro não eram apenas saudade interpretada de forma extrema e sim amor de verdade, e Fu Yong Jie é só um bebê confuso que precisou entender que para se conquistar alguém a sinceridade precisa vir acompanhada de uma boa dose de carinho e compreensão. Essa é a jornada de Close To You: a proximidade com o amor nos muda, ela nos faz crescer e aceitar coisas antes impossíveis, mas ele também ajuda a superar. 

A conexão com o arco de MODC fica por conta de amizade de Li Cheng com Bo Xiang (Wilson Liu), que está em vias de se casar com Zhi Gang (Thomas Chang), o casal secundário do arco anterior que, muito embora tenham tido um final digno ali, acabou sendo ofuscado pela tragédia que acabou com o casal principal. O casamento deles é preparado pelo trio de protagonistas e, na festa, temos um fechamento perfeito pra ambos os arcos, com direito também a participação de outros personagens secundários do arco anterior, como os gêmeos (lindos) Xia De e Xia En

A dinâmica da série continua: as cenas são rápidas e os diálogos diretos, o que parece ser um traço marcante das produções taiwanesas. A comédia é realmente engraçada, sem forçar, e as cenas de drama, um pouco mais intensas, bem dirigidas e distribuídas. Nenhum episódio é completamente triste ou bobo, o equilíbrio foi bem executado. A fotografia é linda e bem colorida, alegre e fresca. Os personagens são um deslumbre, e como trabalham com arte e moda, se veste absurdamente bem, as empresas que investiram em merchan com as roupas se deram muito bem. A trilha sonora é também deliciosa, especialmente as duas faixas cantadas pelo Andrew Tan, que são sensacionais.

Agora o meu veredito, polêmico: a série foi ousada, soube amarrar bem as histórias com o arco anterior, deixando bem interessante e tem uma dinâmica muito gostosa de se assistir. O carisma dos personagens é cativante, Li Cheng é um homem e tanto, que se responsabiliza e protege quem ama, Mu Ren é cuidadoso ao seu modo, preocupado com os amigos e um bom ouvinte, Xing Si é simplesmente um sonho e, se uma chance, Yong Jie também cativa com sua forma dura de ser fofo. A amizade deles é bonita de se ver, além do crescimento visível, equilibrando comédia, drama e romance (até mesmo cenas um pouco hot) com maestria. 

Ao fim da série Fu Yong Jie diz que não acreditava no amor ou no casamento mas, pelo que sentia por Xing Si ele estava disposto a acreditar, isso é claro uma declaração de que ele já acreditava, e que acreditava justamente porque era impossível negar que o que ele sentia era amor. 

Nota: 10/10

7 comentários:

  1. Melhor Review, sério descreveu tudo oque a série quis passar,como em toda a obra tem seus acertos e erros, mas essa e perfeita e tudo é muito bem feito, como as atuações, as mensagens passadas, a história e acima de tudo o desenvolvimento da série que ao meu ver foi simplesmente perfeito, causando em todos nós sentimentos involuntários. A série tem mais acertos do que erros e merece seu destaque e título de uma série bem feita.

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    1. O que mais me chama a atenção é que as séries retratam que nós temos acertos e erros. Nós cometemos burradas, nós somos abusivos muitas vezes, então gosto de ver esse lado sendo explorado nas telas.

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    2. Eu entendo, precisamos mesmo ver e lembra o outro lado, para não replicar esses abusos em nossas vidas.

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  2. o véu do julgamento cega os olhos de quem vê e muitas pessoas vêem apenas aquilo que esta em seu mundo, normalmente olhando e julgando sem saber o todo, para mim foi uma série muito boa de assistir, temos que olhar para o outro com os olhos do coração e aceitar que o amor é se aceitar em todas as suas diferenças, nós já nos criticamos muito nãoprecisamos de ninguém para mostrar o que nos dói no dia a dia. Acho que eu fuji do assunto :)

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    1. Sim. Quando vejo uma obra de arte, e não digo isso apenas como fã de BL mas como especialista em História da Arte, eu preciso estar aberto a ver o que o artista quer me passar, e só depois então fazer algum juízo disso, mas ainda assim sem me tornar cego por isso.

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  3. Cara vc mim fez chorar pela segunda vez com suas palavras.
    Ontem vendo o episódio chorei como nunca tinha chorado em outro BL antes e suas palavras agora mim fizeram chorar de novo.

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    1. Fico muito feliz em saber disso, sinal de que a obra tocou você. Pra mim, apaixonado por arte, acho que é um indicativo de uma obra verdadeira, aquela capaz de tocar nosso coração. Obrigado!

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