sexta-feira, 21 de maio de 2021

Trabalho em vão

Eu já esperava que as coisas dessem errado, já esperava que a palavra que me deram não valesse de nada. Acontece que, atualmente, tenho tomado como metodologia geral para o convívio com o próximo nunca confiar em ninguém. Mesmo que já tenha colocado uma data de entrega suficiente para que eu conseguisse dar conta de preparar todos os detalhes da celebração com tempo hábil as coisas ainda desandaram. 

Dois dias antes da cerimônia a costureira me avisa que as vestes dos coroinhas não estão prontas, o que torna praticamente inviável que eu consiga fazer a cerimônia conforme planejara, e que significa também que não poderei me afastar nesse fim de semana, conforme planejara. 

Isso destruiu meu dia, e minha ansiedade atacou com brutal violência. Eu precisei fazer longas ligações com o padre, me desculpar com duas dúzias de pessoas e explicar a mesma coisa uma centena de vezes. Foi horrível. E eu havia me preparado tão bem para isso. Organizei um belo rito, comprei as cruzes, encomendei crucifixos, mas as vestes que eu encomendara antes de tudo isso destruíram meus planos.

A irresponsabilidade foi tremenda, eu contava com isso, precisava que, ao menos na minha despedida as coisas funcionassem como deve ser. É horrível pensar que todo meu trabalho foi em vão, e eu estou absolutamente devastado. 

Tomei uma quantidade absurda de calmante, mas só consegui dormir por duas horas, restando apenas um gosto horrível na boca, amargo, do remédio e da sensação de completa incapacidade de conseguir realizar as coisas como devem ser, de fazer as coisas como gostaria, de dar as celebrações a dignidade que elas necessitam. 

Mais uma vez é como se tudo o que eu faço não servisse de nada, é como se eu perambulasse ao vento como farrapo, sem rumo e sem razão de ser, já que meu esforço não consegue nada, já que eu não consigo nada...

X

Claro que depois não poderia deixar de ser tomado por uma profunda sensação de incompetência, com a incerteza do futuro se apossando de mim como se tentáculos me apertassem e espreitassem a minha mente. Já tinha um plano traçado, iria descansar depois desse fim de semana, agora eu não tenho mais certeza de nada além de que já ultrapassei meus limites, de que não há nada mais que consiga fazer e pior, que serei obrigado de algum modo a permanecer ainda não sei por quantos dias assim... E eu preciso, mais do que qualquer coisa, me desligar, conseguir me reconectar comigo mesmo, conseguir algum equilíbrio. 

Isso, como era de se esperar, fez com que outras tantas coisas viessem à minha mente: a percepção de que estou sozinho e deprimido numa sexta-feira à noite, enquanto muitos saem, se divertem ou simplesmente estão na companhia de quem amam. 

Me vem nesse momento a sensação de completa solidão. Estou sozinho na apreensão desse problema, estou sozinho preocupado enquanto os outros ocupam suas mentes com outras coisas... Mas por qual razão comigo tinha de ser assim? Só comigo? É lamentável e minhas lágrimas de nada servem pra resolver isso. Eu sou um inútil que, mesmo fazendo meu melhor ainda consegue falhar de modo miserável. Eu sou um inútil que nunca conseguiu cativar ninguém, eu sou um inútil que devia ter a decência de sumir do mundo e assim, ao menos facilitar as coisas para mim. Não consigo sequer escrever algo descrevendo o quanto me sinto péssimo nesse momento... Pff, eu sou patético e digno não de pena, mas do mais profundo desprezo. 

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