segunda-feira, 24 de maio de 2021

Educação Humana

Minha família embarcou num conflito com os vizinhos da casa dos fundos nas últimas semanas. Acontece que eles vêm abusando do direito de serem inconvenientes e, considerando que as duas casas são grudadas, o mínimo de bom senso é necessário para uma boa convivência. 

O pessoa de lá só consegue se comunicar na base do grito, ninguém tem a capacidade de falar num tom normal, nós aqui de casa participamos passivamente de todas as conversas, não importando o quão íntima elas sejam. A mãe é a pior, ela grita das seis da manhã até altas horas da noite, isso quando ela não liga o som bem alto e tenta falar ainda mais alto do que ele, gerando uma situação profundamente constrangedora em que somos obrigados a ouvir o conversar pífio. Os filhos não se dão bem e brigam o dia todo, o que conta com a intervenção da matrona expansiva. 

Eles não têm a menor noção do que seja educação básica. A garota tem o vocabulário de um traficante de favela e o moleque, bom, ele só não tem a idade necessária pra isso, pois de resto... 

Minha mãe veio falar comigo sobre como se assustou com a frequência com que eles usam palavrões para falar uns com os outros. Ela ainda não percebeu que essa família não é a exceção, mas apenas uma demonstração bem clara do cidadão médio, que escuta as mesmas dez músicas sertanejas todos os dias, jogando dominó e bebendo cerveja barata enquanto conversa falando da vida dos parentes próximos ou distantes como se tivesse algo a ver com eles. A mesquinharia, a pequenez de espírito gritada em cada palavrão é apenas um mostruário da verdadeira pequenez que há neles, fruto de uma vida absurdamente longe da cultura. Minha mãe só não percebeu ainda que aqui em casa não é diferente, que a minha irmã tem todos os adjetivos negativos dos vizinhos e até mais alguns. A única diferença é que a gente não se expressa com tamanha veemência com frequência, mas que todos aqui são tão baixos e dignos de pena, são!

Essa é uma das perspectivas que mais me deprimem. Meu sonho é morar num lugar onde, pelo menos, o cidadão médio não seja tão baixo. Onde cultura seja ir ao teatro e ouvir música um pouco melhorzinha sem que esses patifes digam que é música de dormir, onde a beleza seja a regra e não a exceção, onde as paredes tenham ao menos reboco e a mente das pessoas o mínimo de cultura geral. 

Isso soa de uma arrogância tremenda, e eu sei disso, mas é a verdade, o mundo ao meu redor não me causa outra reação a não ser a de completo nojo e desprezo absoluto de quem olha para seres que já não chegam mais ao status de seres humanos, mas apenas que parecem com humanos, pois nem falam mais como humanos. Alguns animais não receberam o benefício da educação humana, dizia Satie. 

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