segunda-feira, 24 de maio de 2021

Ironia

É uma ironia ácida a percepção de que não podemos ser para o outro aquilo que esperam de nós, ainda que seja algo simples. Não podemos, de maneira alguma, corresponder as expectativas criadas, por menores que sejam, e muito menos esperar que correspondam aquelas que nós criamos, simplesmente por um olhar, ou por precisar de algo que, supomos, tal ou qual pessoa pode nos dar. 

A verdade é que não podemos ser para o outro mais do que motivo de decepção e desordem. Somos universos incomunicáveis, cujo alvorecer só pode ser visível dum ponto específico de nossa própria consciência, inexprimível a qualquer outro ser de outra galáxia distante, por mais que ele diga ser ou estar próximo. A verdade é que estamos distantes demais para sequer entender a distância que o outro está de nós. 

E a nossa realidade é essa, é perpetuar desumanidades e não acompanhar ninguém, vivendo com o mesmo sem vontade que a luz de um estrela já morta ainda brilha no céu, não sendo mais do que, no entanto, recessos de algo que já se foi. Muitos de nós vivem apenas assim, do brilho de algo que já não existe mais senão que nas areias do tempo percorre terras distantes para criar na mente de quem observa a ilusão de que aquela luz ainda vive. Vivendo na mente já não morre, senão que morto já se encontra em seu próprio coração, e vive assim, tão frágil, vazio e sem contorno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário