quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Perdido


“A vida oscila, como um pêndulo, de um lado para o outro, entre a dor e o tédio.” 
Arthur Schopenhauer.

Acordei, mas preferiria ter continuado dormindo e sem o conhecimento de todas as obrigações para o dia de hoje. Mensagens e mais mensagens com cobranças, e eu só queria um pouco da paz, de silêncio. As pessoas perderam completamente a noção da importância do silêncio, para onde quer que eu olhe sou bombardeado por todo tipo de informação. A paz que eu tanto quero é agora uma sombra pálida de um sonho distante. 

Eu não sei lidar muito bem com um número grande de informações, me sinto perdido, por isso me sinto incomodado quando recebo muitas mensagens, quando muita gente fala ao mesmo tempo, não consigo processar tudo de uma vez, minha cabeça dói e tudo o que eu quero é sair dali. 

Mas os outros parecem não entender isso, parece que o caos é desejável. Eles se comprazem na loucura dos dias. Eu só consigo enxergar um niilismo nesses dias de Baco. Eu não vejo beleza nessa loucura, apenas o horror de ser sem saber quem se é, de não conseguir ouvir o próprio coração. Eu sei que eles não querem se ouvir, mas eu preciso, preciso ouvir e sondar aquilo que há no meu núcleo. Pouco me importa se todos querem ignorar a própria voz e fazem isso reverberando seus gritos desesperados, eu tenho a minha própria voz e preciso ouvi-la. 

Não quero desperdiçar o meu tempo e o pouco de sanidade que me resta em conversas vazias, em frivolidades, em coisas tão passageiras como o soprar do vento. Eu quero me deter na realidade, ao mesmo tempo que quero fugir dessa realidade de mentiras, desse ambiente artificial, onde as pessoas fingem ser o que não são, onde só há miséria moral para onde quer que se olhe, onde os grandes valores se perderam, diluídos numa atmosfera de egoísmo e mentes fechadas. 

As pessoas não entendem que eu quero lidar com essas grandes coisas, continuam me obrigando a ver essa realidade feia, repleta de nada travestido de valores, mas esses valores de nada valem, são vazios, tão vazios quanto as vozes que me obrigam a ouvir. Só fazem barulho e abafam os valores de verdade e justiça. 

Estou cansado de catástrofes, hecatombes, cansado de um mundo de caos onde preciso lutar pra enxergar a ordem por debaixo das coisas. 

Enquanto o mundo se aquece em disputas internacionais as minhas caixas de remédio se empilham cada vez mais, e eu nem consigo entender o que está acontecendo. Me sinto perdido, e enjoado. O que está acontecendo? Não consigo me situar, para onde quer eu olhe só vejo o caos, não deveria haver um fundo de ordem por trás de tudo isso? Me sinto engolido por um oceano de águas negras, afundando cada vez mais, me fechando cada vez mais, sem esperança de voltar a luz da superfície. 

E o mundo se destrói no seu caos, e eu me perco no meu próprio caos. Vagando no vazio, sem rumo, sem destino. E quanto mais tento enxergar uma saída, menos entendo o que está acontecendo. Onde estou? Nem para esta pergunta eu tenho resposta... E a cada dia eu acordo com essa pergunta presa na garganta, e a cada dia eu durmo sem saber a resposta. Completamente perdido. 

Vejo então o mundo ansioso com uma possível guerra, e muitas pessoas ansiosas em dar opiniões, e eu perdido, sabendo que ainda preciso estudar mais pra conseguir sequer entender o que se passa. Eu olho para minhas prateleiras de livros, repletas de muitos conhecimentos que eu ainda preciso adquirir, esperando por mim. Mas imaginar tanta coisa é também um pouco paralisante. 

Eu sei que não deveria ser assim, que não há necessidade nenhuma de querer saber tudo agora, que eu hei de aprender o que for preciso no momento certo, mas é também verdade que ficar frente a frente ao meu horizonte de ignorância é um pouco assustador. Me sinto pequeno, e sei que essa sensação é, na realidade o meu lugar no mundo, modesto lugar, num mundo gigantesco. Mas então, como prestar atenção a verdade quando ela paralisa?

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