domingo, 6 de fevereiro de 2022

Do Ser

Um dedilhado lento ao violão, uma voz de fundo, quase inaudível. Eu já não consigo mais falar como antes, o brilho daquela noite se perdeu na vasta escuridão do véu de Nix, minha voz se calou e meu corpo cessou de reagir, como que possuído por espírito paralisante, o terror se aproximando das minhas narinas, me fazendo sentir o fétido odor. Sim o mundo é bonito, mas nem sempre eu consigo contemplá-lo, em algumas vezes é como se estivesse de olhos fechados, e tudo o que vejo é essa escuridão sem fim. 

Humano demasiado humano, minha condenação, de volta à minha cela, sem luz e sem guia, o coração que ardia prestes a se apagar. A música no fundo é a única coisa viva nesse claustro, eu apenas existo numa forma inferior de ser. Aquilo que existiu por ínfimo instante não cessa de existir jamais na história do ser, mas eu sinto como se fosse lentamente desaparecendo, como se, não sendo mais eu fosse apagado da história do ser. 

E, não sendo mais do que sou, o que eu serei então quando parece que deixo de ser? 

Não parece que eu sou o mesmo que ontem à noite era aquele que sorria e bebia, mas eu já pressentia a chegada dela. E ela sempre vem. E eu sempre me desfaço, me perco. E não há nada que eu consiga fazer. 

A única coisa que me conforta é saber que as noites escuras sempre passam, por mais que demorem. 

Aqui a poesia perde sua rima, as flores perdem as pétalas, é inverno, é noite e ao longe todos festejam, mas aqui é apenas como se estivesse em companhia da morte, do silêncio e da solidão. É como se estivesse no ato final da tragédia, prestes a ver as cortinas se fecharem de uma vez. 

Eu estou mesmo desaparecendo, pouco a pouco, minha personalidade se desfazendo como cinza, e em breve eu retornarei ao nada. 

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