segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Apenas isso

Hoje, por mais incrível que isso possa parecer, o sono me escapou por entre os dedos. Seja pela fina dor de cabeça ou pela carga de energia que as minhas séries me deram agora a noite eu estou agora no meu eu desperto dentro dos recessos da minha mente. Já tive uma súbita consciência de mim mesmo, uma ou duas vezes, já pensei em verdades eternas e em mentiras fugazes, minha mente se detém nas primeiras enquanto passo rapidamente pelas segundas. Uma parte de mim quer dormir e deseja que amanhã tudo possa amanhecer bem melhor, outra parte, a mais realista delas, sabe que isso não vai acontecer e que os dias da minha hipomania atual devem estar no fim. 

Deveria voltar a me exercitar, me ajudava com as crises e me mantinha um pouco mais ocupado, mas eu não tenho coragem pra isso atualmente. Tenho me incomodado com meu corpo mas isso não é o bastante para me fazer encarar uma academia, na verdade seria um lugar que devastaria a minha autoestima. 

É já meu aniversário, escrevo durante a madrugada, e é com um profundo descontentamento que eu faço o balanço de mais um ano sendo um pária, sem encontrar um lugar no mundo, sem ter achado uma razão para existir e ainda insistindo numa existência medíocre, vazia e sem nenhum significado mais profundo. E é apenas isso, a vida é tristeza intercalada por mínimos momentos de alegria, e parece que todos os anos são apenas uma longa constatação dessa verdade, como se eu ainda não tivesse aprendido a lição. 

Queria poder parar no tempo, não envelhecer mais a pele e apenas acumular sabedoria e inteligência, assim algum dia eu poderia ser um pouco melhor do que sou hoje. É uma infelicidade pensar assim, eu sei, mas é o que temos pra hoje, a ácida verdade jogada na minha cara como um bolo gorduroso demais. 

A cada dia que passa eu me dou mais conta da nossa fraqueza, da forma como passamos rápido, e isso por si deveria bastar para que as coisas tivessem sua beleza e que me fizessem querer desfrutar da vida o máximo possível mas a verdade é que essa constatação me deixa apenas paralisado. Parece que a humanidade apenas acumula encontros fugazes e sentimentos ruins, sendo que as coisas boas se perdem por entre nossos dedos, passam.

Só consigo desfrutar da vida numa música que toca no player baixinho, numa história de amor que me arranque suspiros, apenas isso. 

Mas o mundo não é uma história de amor, é apenas barulho, barulho por toda parte. E esse barulho é insuportável, porque viver é insuportável, é incômodo atrás de incômodo e parece que nunca cessa, nunca chega a um fim, é apenas barulho e mais barulho, sem propósito, sem sentido. E parece que ninguém se importa ou percebe. 

Como eles podem não se incomodar com isso? Como pode isso ser insuportável apenas para mim? Eles estão todos surdos? Esse mundo, essa vida, não pode ser insuportável apenas para mim mas parece que ao meu redor ninguém se deu conta disso ainda, e isso é ainda mais desesperador. Eles todos parecem gostar de todo esse barulho, parecem gostar desse mundo de desespero. 

Se isso não é motivo pra desistir eu nem sei o que pode mais ser... No que diz respeito a mim eu já desisti há muito tempo atrás. 

"De que adianta falar de motivos? Às vezes, basta um só. Às vezes nem juntando todos." 
José Saramago

Nenhum comentário:

Postar um comentário