segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Segunda de Carnaval

"Este mundo tem suas noites, e não são poucas." 
Johan Huizinga

É uma segunda de carnaval atípica, sonolenta. O calor incomoda e como que paira sobre a gente numa cama desagradável de suor sobre a pele. Tentei estudar assim que acordei mas fui vencido pelo sono, e cá estou eu agora esperando os remédios fazerem efeito para eu dormir o resto do dia todo. Já desde ontem eu tinha planos pra dormir hoje e me senti feliz a chegar a essa decisão, pois os dias de sono ainda são os melhores pra mim. 

Não consegui me concentrar suficientemente na leitura, algo na história não me prendeu, tenho experimentado esses dias um completo desinteresse por quase tudo. Embora esteja em hipomania identifico sinais de um episódio misto pois a antiga lente sépia sobre todas as coisas tem sido a única forma que eu vejo o mundo. 

As músicas continuam sendo minha companhia, mas não na ordem que eu as concebi, elas vêm numa aleatoriedade que me anima um pouco, me dão um pouco de alegria em acordes ascendentes e vozes pronunciando palavras desconhecidas do meu idioma. 

Elas são meu refúgio, elas e o sono irresistível, e eu já nem sei quantas vezes falei sobre isso aqui mas, se é verdade que a boca fala daquilo que o coração está cheio eu estou certo em me repetir. Por isso eu falo de como dormir é bom e de como o mundo me inunda de desesperança, deixando meu coração num luto permanente pela própria existência, vivendo um dia após o outro sem conseguir enxergar a luz, como se tudo fosse uma eterna noite escura.

Mas nessa noite há também inflamações do coração, uma história de amor ou uma música especial, que transformam as noites escuras, que às vezes até mesmo pode diminuir os terrores noturnos, que tornam as coisas um pouco mais agradáveis. Mas, ainda assim, continuam sendo noites escuras, mesmo de amor em vivas ânsias inflamadas. 

Enquanto isso os outros seguem suas vidas, enquanto eu estou paralisado. Meus pais não param um segundo sequer, meus vizinhos saem cedo e chegam tarde e eu continuo aqui, observador passivo da desordem do mundo, buscando um fundo de verdade em cada experiência humana. A voz melodiosa me deixa cheio de melancolia. Parece que o mundo se resume a isso, correria de um lado e melancolia do outro. Não muito além disso. 

Por mais que eu não tenha dormido como queira o dia foi marcado por uma sonolência pesada, olhos fechados e calor intenso. O calor era tanto que me impediu de dormir, e acho isso um saco. 

Fiz alguns planos para a noite, de ouvir uma sinfonia, daquele jeito, com muita atenção a cada pequeno detalhe, já faz algum tempo que não faço isso e acho que mereço um tempo assim. 

Procuro agora um encerramento para esse texto, o que tem me custado muito porque eu simplesmente fui colocando as coisas aqui, sem nenhuma pretensão de estilo ou coisa do tipo, mas agora a finalização exige de mim um arremate que lhe dê sentido, mas, se a própria vida de que falo aqui não tem sentido algum, por qual razão um texto sobre ela teria? 

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