quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Equilíbrio

O que sentimos merece certa elaboração, as palavras nem sempre jorram como as águas de um rio mas, muitas vezes, se escondem atrás das pedras e dos galhos do nosso jardim interior, esperando que sejam achadas para então vir a superfície, trazendo um pouco de luz nosso interior obscuro. 

Tanto a alegria quanto a tristeza merecem certa atenção, merecem que sejam cultivadas como uma flor de modo a trazer à tona toda sua beleza. Sim, há beleza mesmo na tristeza, e isso não é uma romantização, mas quando elevada aos píncaros pode dar origem a belas obras, muito embora seu conteúdo não seja nada belo mas, antes disso, horrendamente desolador, ainda pode dar frutos saborosos aos sentidos. Digo isso com uma série de músicas "tristes" que vão desde baladinhas genéricas até grandes movimentos sinfônicos onde a tristeza encontra o ápice de sua expressão e ali, de modo belo, nos coloca diante de uma realidade triste, sim é verdade, mas que ainda é digna de contemplação. 

Há quem viva apenas dos extremos, e não os culpo pois muitas vezes me encontro dentre eles, e cultivam o máximo que podem de seus sentimentos, se entregam a melancolia e as alegrias com a mesma intensidade com que se dão aos vícios. Se entregam até que transbordem, são os artistas, que transbordam em suas obras toda a intensidade de suas experiências. Sinto isso ao ouvir uma música ou ver certas obras de arte, a dor, a tristeza, e algumas vezes até a alegria chegam a ser quase palpáveis. Oh, como é belo quando o homem consegue transformar seus piores dias numa bela obra. Eu, infelizmente só consigo escrever, mas penso que isso pode servir algum dia para alguém tão triste quanto eu. 

É a terceira vez que estou repetindo esse álbum hoje, e a primeira que paro pra realmente ouvir uma de suas faixas, e não simplesmente me obrigar a entrar num estado de letargia e voltar a dormir. É como se eu quisesse absorver dele alguma coisa que eu sei que não vou conseguir, há limites pra música mais popular, a potência sugestiva nunca é tão grande quanto a de uma música clássica. Mas ainda há o que aproveitar. O timbre doce de Yang Yoseop ecoa em meus pensamentos agora e eu começo a imaginar uma série de cenas coloridas, como se fossem lembranças, mas eu nunca vivi nenhuma dessas coisas, trata-se da idealização banal de sonhos bobos que eu sei que nunca se tornarão realidade. É o que essa música me traz, e até isso merece certa elaboração. 

Nossos sonhos dizem coisas sobre nós, e se pessoas grandes tem sonhos grandiosos os meus são bem singelos, desejo uma vida tranquila ao lado de uma pessoa igualmente tranquila. E eu o vejo entrar pela porta de um pequeno café de decoração colorida onde pedimos algumas fatias de bolo e a bebida menos doce do cardápio pra equilibrar. Equilíbrio, esse sonho é o que se encontra no centro das minhas experiências, não é particularmente feliz e nem triste, apenas é, tranquilo, equilibrado, algo que um bipolar como eu só pode sonhar em ser. 

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