sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Entre a solidão e a solitude

Eu estava tentando me concentrar num conferência sobre o niilismo e o romantismo, tentando me esquecer do pânico crescente que sentia se aproximar, e que sinto também agora, quando uma pergunta desencadeou uma série de pensamentos sobre os quais eu não tinha o menor controle. Minha mãe não poderia imaginar, é claro, mas aquela pergunta me fez voltar para tão profundamente dentro de mim que naquele mesmo momento eu já não escutava nada além do meu próprio pensamento. 

E meu pensamento rodopiava velozmente, em torno de si mesmo, e eu sabia que não havia resposta para aquela pergunta. Isso porque nunca estive eu tão sozinho e isolado quanto agora, e sequer consigo conjecturar a possibilidade de encontrar companhia neste mundo, para mim. Eu me fechei, sem nem saber, e afastei o meus amigos mais chegados que hoje olham pra mim senão com desprezo, e então eu busquei encontrar na solidão o meu lugar. 

É verdade que a solidão, por mais que eu me acostume com ela, jamais parece certa. Isso porque o homem é um animal social, busca sempre no outro algo que falta em si mesmo, busca companhia, busca afeto, busca contato. E eu me privei dessas coisas, minhas relações são todas quase profissionais, e meus amigos mais chegados falam comigo através de uma distância geográfica intransponível. Muito embora os estime o afeto físico ainda falta a essas relações, o que as coloca indelevelmente num grau que ainda se encaixa na solitude. 

A verdade é que estou sozinho, me tornei um animal solitário, que não consegue imaginar o que pode ser feito para transpassar os umbrais dessa condição e voltar a ter contato humano, eu simplesmente não sei. Não tenho resposta então para a pergunta de minha mãe, não sei se alguém ao meu lado poderia me ajudar no meu estado atual, ainda convalescente, e tampouco sei como fazer para conseguir alguém ao meu lado. 

Minha experiência é a do náufrago, me vejo sozinho e isolado, incapaz de me relacionar com o outro. Tenho medo e tenho preguiça, e essas coisas, ambas, me impedem de qualquer passo. A verdade é que eu nunca fui atrás de nenhuma amizade, elas se apresentaram a mim, e eu as acolhi, mas hoje parece-me que meu círculo se fechou de tal modo que eu já não sou mais optável, senão que me tornei odioso aos olhos dos outros. Já não tenho mais forma humana aos seus olhos e por isso passam direto por mim. 

A única alternativa que me restou é a de me contentar com a solidão e o desprezo, mesmo que, uma vez já habituado ao silêncio dessa condição, ainda sinta que ela guarda algo de intrinsecamente errado. 

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