quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Cinzas

Um só homem não pode lutar contra uma força da natureza. É impossível que ele sozinho consiga deter a força destrutiva de um furacão que arremessa longe tudo por onde quer que passe. É impossível que ele consiga sobreviver a uma erupção vulcânica lutando contra as ondas de lava que avançam em sua direção transformando todo o mundo em cinzas.

Cinzas.

As vezes parece que todo o universo se queimará e se reduzirá às cinzas. Toda vida, toda cor, tudo se transformará em cinza fria naquele temível e lacrimoso dia. 

No entanto, alguns recebem a visão dessa grande destruição antes que ela aconteça. As cinzas cobrem as cores e impedem a passagem da luz e do calor. 

Que o mundo inteiro queime e se torne cinza. 

Já não há mais vida depois que as cinzas tomam de conta. O que sobreviveu ao fogo não sobrevive a escuridão. Já não há mais esperança para o mundo que se queimou. Uma cicatriz de queimadura pode nunca desaparecer, e mesmo que ordinariamente pare de doer, ainda será sentida nos dias frios com  certo incômodo. 

Mas é também no fogo que se prova o ouro. E uma espada só pode ficar verdadeiramente forte após passar pelo fogo e pelo gelo. E ambos tem a mesma força destrutiva. Ambos servem para fortalecer ou para matar. Assim como o amor.

O amor pode ser então essa chama viva onde se prova o ouro e onde se forja a arma, mas também pode ser a lava que queima e reduz tudo a cinza. 

O amor pode ser aquela brisa fresca de um dia ameno ou o ar congelante de uma geleira onde se encontram os corpos daqueles que tentaram desbravá-la. 

Desbravar.

Mais uma vez o amor se apresenta a mim como uma terra gigantesca a ser desbravada. Um lugar desconhecido que pode esconder belezas indescritíveis mas ao mesmo tempo perigos incalculáveis. 

A decisão de seguir em frente e encarar os desafios e descobertas é toda minha. E no entanto o caminho escolhido pode me conduzir tanto a uma praia bela e confortável quanto para um vulcão mortal, onde encontrarei a morte.

Penso ter tomado então o caminho errado. Não achei nenhuma beleza real nessa aventura. Apenas dor e morte. A única beleza que meus olhos contemplaram foi aquela das rosas venenosas que inebriaram meus sentidos e me conduziram para a morte certa. 

Morte certa.

Foi uma aventura breve, mal começou e já havia acabado. Fui um daqueles personagens descartáveis. Um daqueles peões que morrem nas primeiras jogadas de um jogo de xadrez para garantir a vitória de um time que no entanto ele não viverá para assistir.  

Nessa brincadeira eu apenas me machuquei, apenas me queimei, e fui obrigado a assistir ao meu próprio coração ser reduzido às cinzas. 

E assim como quando um vulcão entra em erupção ele destrói toda a vida do lugar onde se encontra, também toda a vida que havia em mim morreu queimada por suas vivas chamas.

Não sobrou mais nada, apenas uma vaga memória da beleza que um dia existiu.

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