quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Textos crueis

Vagando pela internet as vezes nos deparamos com algumas pérolas. De fato, algumas palavras tem o poder de nos tocar e de nos fazer refletir profundamente. Foi o que pensei desses dois textos, por isso decidi colocá-los aqui. 

Amor de verdade a gente conserta, não joga fora
                   
Considerado o “Poderoso Chefão” dos sentimentos, todo mundo quer encontrar o grande amor. Mas, ao mesmo tempo, ninguém quer dividir tristezas e desilusões, sentir as incansáveis dores físicas, passar por torturas psicológicas ou ficar noites sem dormir. Ninguém quer ter que aguentar o outro de mau humor,suportar as diferenças, compartilhar e ceder.

As pessoas querem mesmo é viver apaixonadas, curtir aquele desejo e vontade de fazer sexo todas as noites, tomar sol em uma casa de veraneio na praia ao som dos pássaros cantando e viver o sonho da família Doriana. Por isso, os amores de hoje são tão descartáveis. A cada esquina se acha alguém para se apaixonar, mas ninguém para amar. Cadê as pessoas que estão dispostas a suportar, no dia a dia, as imperfeições e que estão afim a criar problemas e, depois, resolvê-los juntas?Está tão clichê dizer eu te amo e fazer amor (que nem pode mais se chamar de amor), que andar de mãos dadas não reflete companheirismo e um elo, mas sim, só mais duas mãos e alguns passos, que podem seguir separados. O que mais me impressiona não é nem o fato do “felizes para sempre” estar quase que em extinção, mas a coragem que as pessoas têm de, quando não conseguirem fazer as coisas darem certo e enfrentarem dificuldades juntas, se consolarem com o simples “Não era pra ser…”. Porque afinal, a culpa toda é do destino. 

Esses dias estava tentando resolver um cubo mágico e me irritei tão fácil que obviamente não cheguei nem na primeira lateral de cores. Fiquei pensando na quantidade de coisas na vida que deixamos passar por falta de força de vontade. Com o amor é assim. Não queremos unir o azul, o amarelo, o verde, o branco e o vermelho, queremos só o vermelho e pronto. Mas para tudo e todo tipo de amor, sejam entre homens e mulheres, amigos e familiares é preciso de uma união de cores, sentimentos e mais do que isso, paciência. Tudo precisa se encaixar no lugar certo. Só que nós precisamos fazer nossa parte para que isso aconteça. 

Tentar, quem sabe?

~

Você vai serpentear todas as suas teorias falidas de amor em cima do meu peito como um carnaval carioca onde Deus resolveu que seria bom chover e acabar com a magia dos foliões. Você ainda vai queimar todas as minhas esperanças na humanidade porque haverá dias em que ainda lhe darei esse poder sobre mim - afinal, como me desvencilhar de algo e alguém que criei? Passam-se os anos e a gente continua inventando pessoas, téses de mestrado, motivos para seguir. E eu sigo apesar de você.

Haverá dias em que você sobressaltará todas as minhas expectativas e eu pensarei ter superado você até que sua presença cairá, incólume, como um envelope vazio dentro da minha mente. Eu vou pensar tanto em você até as ligações entre meus neurônios não aguentarem mais e explodirem. Então você sairá de mim como quem vai a alguma revolução pós-moderna a fim de se salvar e salvar a humanidade: com a fé imaculada, vou cuspir você para fora de cada centímetro de cada nanopartícula. Mas agora não. 

Agora, e ainda assim, você vai dominar todos os meus pensamentos. Com as suas ameaças, você ainda vai ter uma parte minha porque, por muito tempo, decidi que você era tudo que eu tinha. E é um pecado para com o amor a gente construir a ideia de que o outro é tudo que temos. O amor não nos perdoa em nossas tolices de não saber jogar o jogo da vida - não que em nossa miséria cotidiana não precisemos nos apegar a algo que nos dê a ideia de salvação; mas caramba, precisa-se, sempre, ser assim? Precisa-se apegar-se à ideia de que o amor salva tudo e todos? Nem ele aguenta mais. E ele continua apesar de falharmos, e falhei tanto. Mas hoje você ainda continuará me sussurrando dos caminhos que seguiu e você me escreverá emails contando que a pessoa pela qual você se apaixonou é melhor em enes aspectos que eu; que ela lhe completa e que consegue abraçar suas costas sem reclamar. O seu fantasma continuará pregando peças no meu caminho e eu terei medo de ir à faculdade, de me entregar a alguém novo e especial, de tentar. Vou evitar os cafés da avenida paulista, vou me resguardar das festas facultativas e vou me dedicar mais a mim. Passo a passo. Viverei por mim, pelos centímetros de cabelo que vêm crescendo e pelo conhecimento que adquiri nesse meio-tempo.

Quando alguém vai embora da sua vida, o tempo parece não passar nunca. Você muda seus hábitos literários, as músicas que ouvia-se perdem o sentido, os cantores favoritos caem no ostracismo. Você muda, sua pele fica macia, os desejos por lugares leves e livres tomam conta da sua mente. Você percebe que está livre - não no sentido ruim da palavra, como se antes não estivesse; mas é que agora há um mundo a ser explorado e gente para ser sentida e outras sensações, países, territórios. E durante todo o processo, suas células trocam experiências, conversam, dialogam sobre sua sobrevivência. Seu corpo, durante este espaço, cria estratégias para que você continue de pé, existindo. Evite passar por aqui, apague aquela memória, olhe-se mais no espelho, saia com seus amigos, e assim por diante. E você renasce, revive, tensiosa a própria pele, cria vida. Leva tempo, eu sei.

Você ainda vai ter pequenas partes de mim, fragmentadas. Porque durante todo esse período eu fui dissecando todas as camadas de pele que você tocou e tudo que pudesse conter seu nome - roupas, livros, músicas, tudo. Destruí tudo que havia construído para reconstruí-las novamente, para poder abraçá-las e entender que não tem nada a ver com você, nunca teve. A vida é tão-maior do que as coisas que abdiquei porque você estaria contido nelas. Porque a vida é, inclusive, você contido nelas. A gente não apaga a queimadura da pele. Não dá. Quando alguém olha pra mim, faço questão de mostrar a cicatriz: ansiolíticos três vezes ao dia durante um mês inteiro. Eu não quis enlouquecer. 

Não o fiz.

Mas você aparecerá outras vezes, talvez em dias específicos ou talvez em prints fazendo comentários infelizes que demonstram o ser humano que você é - não menos daquilo que imagino, e eu imagino tão pouco quando penso em você. Tenho pensamentos sobre muitas pessoas, cujos quais flutuam e voam rumo ao México. Sobre você, nada passa do teto de casa. Nisso reside a minha pena. Você aparecerá em dias aleatórios, também. E em memórias descartáveis de dias, idem, descartáveis. Você ainda terá algumas de minhas opiniões - que, assim como as músicas, estou destruindo para reconstruí-las. Você subirá no meu pescoço e me fará ameaças verbais e não-verbais. E você irá embora, da mesma maneira que veio. Você sairá de mim como o sangue escorre de uma casca que a gente arranca sem medo da dor: cicatrizou. Não sai mais nada.

Todo processo tem seu fim. Todo carnaval também. E que bom, meu Deus, que bom.

~
Fontes:

MATTAR, Anna Paula. Amor de verdade a gente conserta, não joga foraBlog Casal Sem Vergonha. Disponível em: http://www.casalsemvergonha.com.br/2014/10/22/amor-de-verdade-a-gente-conserta-nao-joga-fora/ Acesso em: 17/11/2016.

TEXTOS cruéis demais para serem lidos rapidamente. Sem Título. Facebook. Disponível em: https://www.facebook.com/textoscrueisdemais/posts/1815427042028400 Acesso em: 17/11/2016.

Nenhum comentário:

Postar um comentário